terça-feira, 18 de junho de 2013

Tecendo a Manhã






(Aqui)

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De
um que apanhe esse grito que ele
e o
lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o
lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os
fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo,
entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo
tenda, onde entrem todos,
se entretendendo
para todos, no toldo
(a
manhã) que plana livre de armação.
A
manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto

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