domingo, 9 de junho de 2013

NOME DE VASCO


Vasco Gonçalves 3/5/1922 – 11/6/2005
 
NOME DE VASCO

A tua voz excessiva tornava-os mais pequenos.
Eles exigiam-te palavras untuosas,
as
secas flores da jactância,
seu sono e alimento.
A
verdade saía da tua boca iluminada
e
eles tinham os ouvidos postos na mentira
no
bocejo intrigante, na fala camuflada.
A tua
voz recuada na origem não se perdia
nos afazeres verbais da litigância
não sabia a ganância.
Era o vento dos pobres sobre os metais do luxo.
Não te punhas a embalar o povo
como à criança que tarda a adormecer.
Atiravas-lhe à
cara as palavras abruptas
um rosto incorruptível por marés de ferrugem
e
gestos de morrer.

A tua
fronte vasta tornava-os mais pequenos.
Nela despertava o
susto das mães familiares,
o
trigo parco dos homens nas tabernas
que te olhavam ingénuos vendo a seara crescer.
Ao
colo dos pais os meninos sorriam
e os
velhos viam coisas saltar dos teus cabelos.
Mas eras tu que soltavas a vida
amarrada a
um poste como um burro de carga
a
vida desavinda que os enraivecia
e
que lhes dava um coice na pança saciada.

Aqui perde-se o tempo a trabalhar as lendas.
Mas o teu rosto não pode adormecer
sobre a toalha tépida que tece a tua ausência
onde derramo o choro e os outros vão beber.
Porque o teu pulso não suportava a febre
e erguia-se no
ar como um pássaro agudo
que respirasse os ventos antes de partir.

Sobre o ladrar dos cães a tua voz alteia
como a papoula que o tempo não desfolha
a
coluna de fogo que cai sobre a alcateia.
És o
lagar imenso onde as uvas fermentam
sob os pés descalços e vivos da memória.
És a
boca que a História utilizou por boca
o
corredor onde o orvalho cresce entre a juventude
e os
homens se passeiam com trigo na cintura.
Neste
lugar de Inverno lembramo-nos de ti
como quem desperta.
Ninguém aqui precisa de recuar no tempo
nem das sereias que engolem o nevoeiro.
Ninguém aqui suporta que tu voltes
como um Desejado
com o seu cortejo de rotas feiticeiras
que gritem pelo teu nome junto aos becos do mar
com as suas luas gordas de saudade e preguiça.
Teu nome está de como um mastro
de
cal rubra.
Estás
aqui, entre nós, no meio do teu País.
Connosco vais
contigo porque o povo assim o quis. Armando Silva Carvalho
 

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