O QUE EM ALEGRIA
APREGOASTE
É como morto que não procurarás novos lugares,
e, para onde olhares, não verás nem as altas montanhas
nem o fundo do mar, apenas o vento envelhecerá
o pó
que agora te cobre e outros pisam
– não há barco
para navegar, nem ofertas para arrecadar, outros
querem a tua alma, outros deuses conhecer
ou os fragores sábios do povo nomear,
seguir-te, ou de múltiplas e notáveis vénias
se equivocam, e cedem
ao deleite e à glória
o que em alegria
apregoaste, fazendo
amanhecer as manhãs e os caminhos
pela primeira vez para que fôssemos
compreender quanto poder existe
numa palavra ou no brilho
simples de um olhar.
Jorge Velhote
(poema de Jorge Velhote a Álvaro
Cunhal)
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