terça-feira, 29 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
Revolução - Sophia de Mello Breyner
Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitetura
Do homem que ergue
Sua habitação
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitetura
Do homem que ergue
Sua habitação
Sophia de Mello Breyner
sábado, 26 de abril de 2014
O 25 de Abril não admite neutralidade
O 25 de Abril não admite
neutralidade
César Príncipe - publicado na
Vértice 122/Maio-Junho 2005
(Multi-realismo – Uma suGestão de RearmaMento
Estético)
A neutralidade respira ideologia.
A neutralidade transpira ideologia.
A neutralidade vomita ideologia.
A neutralidade é um dos expedientes
primários da capitulação & uma das pompas litúrgicas do negocismo. A paz
não deve premiar corsários & ventríloquos, manequins & marioNets da Cultura & da Educação, da
Informação & do Espectáculo. Não há tréguas entre bolsistas/borlistas do
Sistema & ludibriados/ofendidos do Sistema. Não há núpcias (Recomendáveis)
entre castratori/castrati &
revolucionários/homens/mulheres livres.
Aqui se recusa o Princípio da Inocência
das Artes & o Princípio da Oficialização da Verdade.
Não podemos manter-nos periféricos nas
decisões centrais.
Não devemos ocultar o sofrimento & a
felicidade da razão.
Procuremos afinar as cabeças, as mãos
& as vozes, reabilitando as expedições ao nosso íntimo & ao coração dos
condenados da Terra. Participemos nas
células de sabotagem/implosão do Capitalismo CaniBalístico & da
MerdiCultura Nacional & Universal.
Inauguremos um novo Parque das Nações,
denunciando a vacuidade dos Dantas Electrónicos, dos letristas &
intérpretes do Pimba Global, dos opinion-makers
USA & deita fora, dos mediadores do Totalitarismo PalhAcento, da DemagOrgia
Infecto-Contagiosa, do Populismo Antipopular, do VAMPirismo enceFálico, do jet-set do crime & do ridículo, do
Grande PatroNATO da fome, da Guerra, do AnalfaBestismo.
Intelectuais, Artistas!
Proclamemos, como prioridade
constituinte, uma empresa multi(nacional) do Novo Bom Senso & de Novo Bom
Gosto.
Busquemos um novo Admirável Mundo Novo.
Derrotemos o persistente Triunfo dos Porcos.
Fora com os passageiros da passividade.
Fora com os decOraDores do sistema.
Fora com os bonEcos das corporações.
Fora com o fast-food culturAnal.
Fora com o Ocidente sem Oriente.
Fora com o Norte sem Sul.
O Dólar não é uma Casa de Sonho.
O Euro não se troca por Melancolia.
Viva a GloBalização da Humanidade.
Viva a GloBalização da Identidade.
Viva a GloBalização da Racionalidade.
Viva a GloBalização da Rebeldia.
Viva a GloBalização da Fantasia.
Viva a GloBalização da Alegria.
O Multi-Realismo (só) pretende que
olhemos & escutemos com olhos de ver & ouvidos de ouvir os esplendores
& os horrores, as paixões & os desenganos de estar desperto (no meio)
de funâmbulos & sonâmbulos, delinquentes pérfidos & gentis, vítimas de
todos os continentes & de todas as ilhas & de (também) estar entre
indesarmáveis.
O Multi-Realismo ambiciona confrontar o
Homem Estético com uma Missão Transtemporal & Transespacial &
simultanramente Concreta & Definível na idade da Pedra Atómica, na Idade do
Ferro Chip.
O Multi-Realismo apela aos insurrectos
do Presente por um outro Presente & pelo Presente do Futuro (para que) se
alistem nas Verdadeiras Prioridades da Pátrias & do Planeta, reorganizando
as forças do optimismo contra os que simulam não pertencer ao género humano.
O que não é fácil. Mas é
inadiável.
César Príncipe
quinta-feira, 24 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
Em memória... - José Gomes Ferreira
(obra de Armando
Alves)
homenagem a Casquinha e Caravela (Em
memória de José Caravela e António Maria Casquinha, mortos em Montemor-o-Novo
pela Guarda)
1
Aqui
Nesta planície de sol suado
Dois homens
desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui onde
agora vejo crescer
uma seara
de espigas pretas
2
Quando os dois
camponeses desceram às covas,
Ante os punhos
cerrados de todos nós,
Chorei!
Sim, chorei,
Sentindo nos olhos a
voz
do que há de mais
profundo
nas raízes dos homens
e das flores
a correrem-me em
lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e
pelos matadores
- almas de frio
fundo.
Digam-me lá:
Para que serviria ser
poeta
Se não chorasse
Publicamente
Diante do mundo?
José Gomes Ferreira
segunda-feira, 21 de abril de 2014
O luto no Sertão - JOÃO CABRAL DE MELO NETO
O luto
no Sertão
Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.
Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.
E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.
Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.
Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.
E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
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