terça-feira, 1 de abril de 2014

Góia - Andreï Voznessenski





Eu - Goya
a quem o inimigo alcançou junto à cratera
em voo na direção do campo perdido.

Eu - O Desgosto.

Eu - garganta da guerra,
nas principais cidades
no Inverno de 1941.

Eu - A Fome.

Eu - o pescoço
da mulher enforcada cujo corpo balouça
como um sino na praça vazia.

Eu - Goya.

Ó uvas da punição!
Apontei, viril, para Ocidente -
sou as cinzas de quem não foi convidado!
Nas tábuas do céu preguei estrelas duras -
duras como pregos.

Eu - Goya.
Andrei Voznessenski
Antimundos, Cadernos de Poesia 12
Tradução de Clara Schwarz da Silva,
Versão de Armando da Silva Carvalho,
Publicações Dom Quixote, 1970.
 

((OUTRA VERSÃO) 

Góia

Sou Góia!
Arrancou-me o inimigo as furadas órbitas em voo para o campo nu.
Sou horror.
Sou grito.
 Da guerra, do carvão das cidades na neve do ano quarenta e um.
Sou fome.
Sou garganta
De mulher enforcada cujo corpo, como um sino, tangia na praça nua...
Sou Góia! Ó cachos
Da represália! Em descarga voo para o ocidente, eu cinza de inesperado visitante!
E na memoria do céu sólidas estrelas cravo Como cravos.
Sou Góia.

Andreï Voznessenski
José Sampaio Marinho

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