quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Apelo aos HOMENS - Charlie Champlin





Apelo aos HOMENS
(1940)
(Tradução do discurso de Chaplin em O DITADOR)

   Sinto-me magoado mas eu não desejo ser um imperador. Não é esse o meu papel. Não quero dirigir, nem conquistar seja quem for. Gostaria de ajudar um por um, se possível; os Cristãos, os Judeus… os negros, tudo… como os brancos. Temos todos o desejo de nos entreajudar. As pessoas civilizadas são assim. Queremos viver da nossa felicidade mútua… não do nosso mútuo desgosto. Não queremos desprezar-nos e odiar-nos mutuamente. Neste mundo há lugar para todos. A boa terra é rica e pode fornecer alimentos para todos. O caminho da vida pode ser livre e magnífico, mas nós perdemos esse caminho.
   A voracidade envenenou a alma dos homens, apertou o mundo num círculo de ódio e obrigou-nos a entrar a passo de ganso na miséria e no sangue. Melhorou-se a velocidade mas somos escravos dela. A mecanização que produz a abundância legou-nos o desejo. A nossa ciência tornou-nos cínicos. A inteligência fez-nos duros e brutais.
   Pensamos muito mas sentimos pouco. Temos mais necessidade de espírito humanitário do que de mecanização. Mais do que de inteligência, precisamos de amabilidade, de atenções. Sem essas qualidades a vida não será mais do que violência e tudo se perderá.
   A aviação e a rádio aproximaram-nos uns dos outros. A própria natureza destes inventos despertava a bondade no homem e exigia uma fraternidade universal para a união de todos. Neste instante, a minha própria voz chega a milhares de seres dispersos pelo mundo.
   Aos que podem compreender-me, direi: não desespereis. A infelicidade que caiu sobre nós não é mais do que o resultado dum apetite feroz, o azedume de homens que temem a via do progresso humano. O ódio dos homens passará e os ditadores morrerão; o poder que usurparam ao povo, voltará ao povo. E quanto mais os homens souberem morrer, menos a liberdade desaparecerá!
   Soldados, não vos entregueis a esses brutos… homens que vos desprezam e vos tratam como escravos, arregimentam as vossas vidas, impõem-vos os vossos atos, os vossos pensamentos e os vossos sentimentos; são eles quem vos adestram, vos obrigam a jejuar, vos tratam como gado e se servem de vós como carne para canhão!
   Não vos entreguei a esses homens desnaturados, a esses homens-máquinas de coração mecânico. Vós não sois máquinas! Não sois animais! Vós sois homens! Trazeis o amor e a humanidade em vossos corações! Sede sem ódio! Somente os que não são amados e os anormais… Soldados, não combatais pela escravatura! Combatei pela liberdade.
   No capítulo dezassete do Evangelho e conforme São Lucas, está escrito: O reino de Deus está no próprio homem. Não num só homem, nem num grupo de homens, mas em todos os homens! E vós! Vós, o povo, vós tendes o poder, o poder de criar máquinas. O poder de criar a felicidade.
   Vós, o povo, tendes o poder de criar esta vida livre e esplêndida… de fazer desta vida uma radiosa aventura. Unamo-nos todos, utilizando esse poder! Combatamos por um mundo novo que dê a cada homem a possibilidade de trabalhar, à juventude um futuro e coloque os velhos a coberto das necessidades.
   Pela promessa destas coisas, os ambiciosos guindaram-se ao poder. Mas mentiram! Não mantiveram as suas promessas, nem as manterão nunca! Os ditadores libertaram-se, mas domesticaram o povo.
   Combatamos por um mundo equilibrado… um mundo em que o progresso conduza à felicidade de todos!
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   Hannah, tu ouves-me?
   Onde quer que estejas, Hannah, levanta a tua cara. Ergue os olhos Hannah, as nuvens dissipam-se!
   O sol atravessa-as. Saímos da obscuridade para entrar na luz!
   Entramos num mundo novo… num mundo melhor… onde os homens se elevarão acima dos apetites, do seu ódio e da sua brutalidade.
   Repara, Hannah! Deram asas à alma humana… o homem começa a erguer-se. A sua alma eleva-se em direção ao arco-íris, na claridade da esperança, rumo ao futuro, para um futuro glorioso… que te pertence … que me pertence, como a cada um de todos nós! Ergue o teu olhar, Hannah.
   Olha para o céu, Hannah, ouviste?
   Escuta!...

Em, Vértice Março-Abril 2978)

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