O TEMPO
DAS GIESTAS
“A mente do Homem,
uma vez expandida por
uma nova ideia, nunca
mais recupera as suas
dimensões originais”
Oliver Wendell Holmes (1809-1894)
Tomar partido
é afirmarmo-nos na trincheira do espaço ideológico por
que optámos.
Num momento em que se procura, por todos os meios,
achincalhar a atividade
política esvaziando-a do conteúdo que a
dignifica, O Tempo
das Giestas, de José Casanova,
coloca-a, orgulhosamente no alto patamar que lhe
compete.
O ficcionista
traz ao nosso convívio
esforçados políticos revolucionários, personagens
que, embora
distantes no tempo,
deixaram como herança
a não desbaratar
a chama de liberdade
que tem vindo a iluminar
as novas gerações.
E porque a história é reescrita pela
classe que se
apropria do poder, distorcendo ou
suprimindo os feitos e os atores que, desde sempre,
têm posto em
causa a legitimidade
dos seus atos, é indispensável
e urgente que
haja quem nos
descreva a heroicidade dos que se
entregaram até ao limite
das suas forças, afirmando a liberdade
e por ela
dando por vezes
a própria vida.
São essas personagens
que fizeram e continuam a fazer
a história que
o autor de O Tempo das Giestas nos apresenta num quadro
de luta e amor, esperança e confiança no futuro; porque esta “confiança no futuro” só é possível quando caldeada na luta
e no amor.
Emocionámo-nos; e como
poderia ser
de outro modo,
se nos confundimos com
a gesta de tantas das personagens de O
Tempo das Giestas, vivendo a sua bravura e entrega,
os seus encontros
e desencontros, levados ao paroxismo
de felicidade e desespero,
só possíveis
quando a vida
é sentida com
grande intensidade?!
“Este livro é uma homenagem aos homens que, no Campo de Concentração
do Tarrafal, resistiram ao fascismo – aos que,
morrendo com dignidade,
foram fiéis aos seus ideais; aos que,
sobrevivendo com dignidade,
se mantiveram fiéis a esses ideais.”, esclarece o autor.
Homenagem merecida e necessária,
no preciso momento
em que
se procura branquear
a barbárie do fascismo,
onde no Tarrafal o “médico”
que, supostamente,
deveria socorrer os prisioneiros
doentes lhes
dizia, com a frieza
de qualquer assassino
em série,
que a sua
função era
a de passar certidões
de óbito!
Sendo um romance de amor
e luta, a lealdade tem o seu espaço próprio porque a fidelidade a causas
e princípios continuam a ser
uma constante tal
como em
O Caminho
das Aves ou
em Aquela
Noite de Natal,
a que então
nos referimos com
o mesmo entusiasmo.
Nos seus
trabalhos, o escritor
abre-nos o livro da história
que nos
é sonegada pela classe
que impõe o domínio
económico e logo cultural, classe que não só esconde
os feitos que
lhe são
adversos como
os avilta e deturpa; nunca
é demais afirmá-lo.
Na apresentação deste seu terceiro romance, José Casanova diz-nos, modestamente, que
escreve para os seus
camaradas e amigos; poderá ser sua intenção e
louvável é, creio, no entanto, e afirmo que o esforço e
talento postos
no trabalho que
nos oferece se dirigem a todos os que
necessitam de sentir a nossa
história para
melhor a compreenderem e se
apetrecharem, de modo a poderem
defender-se desse vírus que se encontra
sempre latente
em todas as sociedades,
espreitando um momento
de debilidade para se instalar:
o fascismo.
Aproxima-se o Natal,
uma boa ocasião para
oferecer:
“ O Tempo das Giestas ”
Cid Simões
(crónica lida
na Rádio Baía)
(2007)
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