segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O Tempo das Giestas - José Casa Nova

O TEMPO DAS GIESTAS

“A mente do Homem, uma vez expandida por uma nova ideia, nunca mais recupera as suas dimensões originais”
Oliver Wendell Holmes (1809-1894)

Tomar partido é afirmarmo-nos na trincheira do espaço ideológico por que optámos.

Num momento em que se procura, por todos os meios, achincalhar a atividade política esvaziando-a do conteúdo que a dignifica, O Tempo das Giestas, de José Casanova, coloca-a, orgulhosamente no alto patamar que lhe compete.

O ficcionista traz ao nosso convívio esforçados políticos revolucionários, personagens que, embora distantes no tempo, deixaram como herança a não desbaratar a chama de liberdade que tem vindo a iluminar as novas gerações.

E porque a história é reescrita pela classe que se apropria do poder, distorcendo ou suprimindo os feitos e os atores que, desde sempre, têm posto em causa a legitimidade dos seus atos, é indispensável e urgente que haja quem nos descreva a heroicidade dos que se entregaram até ao limite das suas forças, afirmando a liberdade e por ela dando por vezes a própria vida.

São essas personagens que fizeram e continuam a fazer a história que o autor de O Tempo das Giestas nos apresenta num quadro de luta e amor, esperança e confiança no futuro; porque esta “confiança no futuro” só é possível quando caldeada na luta e no amor.

Emocionámo-nos; e como poderia ser de outro modo, se nos confundimos com a gesta de tantas das personagens de O Tempo das Giestas, vivendo a sua bravura e entrega, os seus encontros e desencontros, levados ao paroxismo de felicidade e desespero, só possíveis quando a vida é sentida com grande intensidade?!

“Este livro é uma homenagem aos homens que, no Campo de Concentração do Tarrafal, resistiram ao fascismo – aos que, morrendo com dignidade, foram fiéis aos seus ideais; aos que, sobrevivendo com dignidade, se mantiveram fiéis a esses ideais.”, esclarece o autor.

Homenagem merecida e necessária, no preciso momento em que se procura branquear a barbárie do fascismo, onde no Tarrafal o “médico” que, supostamente, deveria socorrer os prisioneiros doentes lhes dizia, com a frieza de qualquer assassino em série, que a sua função era a de passar certidões de óbito!

Sendo um romance de amor e luta, a lealdade tem o seu espaço próprio porque a fidelidade a causas e princípios continuam a ser uma constante tal como em O Caminho das Aves ou em Aquela Noite de Natal, a que então nos referimos com o mesmo entusiasmo.

Nos seus trabalhos, o escritor abre-nos o livro da história que nos é sonegada pela classe que impõe o domínio económico e logo cultural, classe que não só esconde os feitos que lhe são adversos como os avilta e deturpa; nunca é demais afirmá-lo.

Na apresentação deste seu terceiro romance, José Casanova diz-nos, modestamente, que escreve para os seus camaradas e amigos; poderá ser sua intenção e louvável é, creio, no entanto, e afirmo que o esforço e talento postos no trabalho que nos oferece se dirigem a todos os que necessitam de sentir a nossa história para melhor a compreenderem e se apetrecharem, de modo a poderem defender-se desse vírus que se encontra sempre latente em todas as sociedades, espreitando um momento de debilidade para se instalar: o fascismo.

Aproxima-se o Natal, uma boa ocasião para oferecer:
“ O Tempo das Giestas


Cid Simões
 (crónica lida na Rádio Baía)
(2007)


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