Não gosto
dos velhacos
Não gosto dos velhacos.
Não sei dissimular.
Um tolo com elogios
não posso presentear.
Não me sei calar
quando ferve o coração.
Ofensas amargas
não troco por proveito.
Pode-se partir em duas
uma fatia de pão.
A metade da alma
não dou a ninguém.
Dar – mas tudo,
até ao fim, sem deixar nada.
Porque, tal como a vida,
a alma é indivisa.
Não gosto de velhacos.
Não sei dissimular.
O que penso de alguém
é para
declarar.
Tudo posso repetir,
olhando bem de frente.
Mesmo que nem sempre
se trate de amigos…
Eu não tenho proteção contra
a boçalidade.
E desta vez ela é mais forte.
Sinos cristalinos
se quebraram –
apelos meus de bondade.
Só se ouve como
na alma brinca
a tristeza
do velho violino.
E a palavra escolhe para o lugar,
que os olvidos
foram inesperados.
Eu não tenho proteção contra
a boçalidade.
É pecado estar indefeso?
E de novo nas ondas do meu desgosto
o riso se engasgou.
Bem, mas a
boçalidade de vez em
quando esfrega
as mãos.
Tudo entretanto lhe pega na mão.
Quantos mundos com isso
perdeu!
Só nos unia a falta de tempo.
Eu não tenho proteção contra
a boçalidade.
Que pena, que na minha alma
os sinos cristalinos
se quebrassem.
Mas eu guardo-os
para outras pessoas.
ANDRÉI DEMENTIÉV
(tradução diretamente
do russo por Manuel de Seabra – Vértice, Março/Abril, 1979)
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