“Calçada
à portuguesa”
O mar
sai das mãos destes calceteiros
que logo de manhã
se ajoelham na rua
a bater
nos cubos
de pedra
como se eles fossem pães
de um tempo
inacabado.
Sisudos e impacientes limpam o corpo
negro
do pó
branco do trabalho
e avançam lentamente
aos pés
de quem
anda a correr
pelos próprios
meios e
mundos.
O mar
não se devia perder em minúcias citadinas
de raças
que tentam conviver na sobrevivência.
Mas o suor é uma água
nostálgica
que envolve a carne frágil
das mulheres com
seus carrinhos
de compras
e as suas
crianças de carrinho.
Água soberba e manchada de sexo.
Negro, negro sensual
de mornas e coladeiras
não subas acima do passeio.
Não me invadas o corpo,
não me molhes as noites mal dormidas.
E o homem
no chão afeiçoa a pequena
pedra
ao mar
seco e saudoso
da sua transumância,
às entranhas
da terra que não é a sua.
Só o coração simples
lhe pede uma sede
de água.
Ou de cerveja.
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