CANTICO
Eu cantei tantas vezes
essa aurora ainda
por vir
e saudei comovido o reencontro
da bravura.
Quem dera que
essa estrela na lapela
dos sobreviventes
seja o sol que entreabre a madrugada
e que essa luz não se
apague pelas sombras insinuantes do poder
para que
não seja abortado esse
parto da esperança.
Quem dera que
aqueles que
agora hasteiam o estandarte
da conquista
construam para este povo a morada da justiça
e anunciem ainda
um dia
a véspera de um
perene amanhecer.
Quem dera ver enfim a grande primavera
e o chão da pátria por inteiro semeado
qual útero e celeiro da real
fraternidade.
Saúdo os que
sobreviveram
na amarga história de um tempo aprisionado.
Na lembrança e
na saudade de um
bando de pássaros
que arribaram
e pousaram nos
nostálgicos territórios da distância.
Saúdo os sobreviventes de tantas lutas
abortadas
de tantas trincheiras
abertas pela
fé de uma bandeira.
Companheiro, meu irmão, meu camarada…
na vida e na morte,
na intenção do bom combate
e no imortal sacrário da poesia,
brindo teu nome com a taça do lirismo
e te ofereço o sabor rebelde
dos meus versos
para saudar-te na memória
imperecível dos caídos
e com a paz da utopia que buscamos.
Manoel
de Andrade
Curitiba, Junho de 2003
Este poema
consta do livro CANTARES,
editado por Escrituras.
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