IV
Que não se
enganem
os que compram as horas
por atacado
para do teu suor extraírem
a bandeira de um país que nunca será o da atenção
que nunca será o
da morada
mas sempre e sempre
o território homeopático
da extinção
em que os troféus são
joelhos vergados à condição
de cera
para os soalhos
do progresso
cujo verdadeiro
nome é
despovoamento
Vender-te-ão o conforto
a
perseverança o brio
como se tivéssemos por
fito
a acumulação do tempo
sem o fruirmos boca
a boca
desesperadamente
garantir o futuro dir-te-ão
sem repararem na estupidez
do repto
pois que poder temos nós
sobre as válvulas
biológicas
do nosso prazo
pra nos
arrogarmos a garantir
o que quer que seja
quanto mais o sumo fruto da inexistência
esse futuro-cano-enfiado-na-boca
para ser disparado sem falta
de manhã e ao deitar
Em volta
sucedem-se clarões
e abismos inóspitos
os elementos torcem-se na pesca
à linha
dos lugares fundamentais
há uma convulsão de panorama
para o brevíssimo turismo
dos olhos
mas o importante
é a matemática mesquinha
do sangue que
furtamos uns aos outros
a medalha de carne
pútrida
com que
esperamos aparecer
na fotografia da época
Que se foda a época
digo-te já
que se foda a sépia
dos futuros
eu quero aparecer no dia
do teu nascimento
desarmado como uma árvore
sem outra missão que não
amparar-te o susto
e dizer-te
baixinho
bem-vindo ao continente
dos frágeis
podes parar de nadar
Vasco Gato
‘fera oculta’
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