terça-feira, 28 de março de 2017

Cantar alentejano - Vicente campinas


 
Cantar alentejano

Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

  

Este poema de António Vicente Campinas  é habitualmente atribuído a José Afonso, autor da belíssima música da popular canção. Quando José Afonso publicou a primeira edição de “Cantares” (Nova Realidade, Tomar, 1967) não indicou a autoria do poema. Para quem tenha conhecido o Zeca, o motivo para tal ‘esquecimento’ só pode ter sido a situação de clandestinidade em que Vicente Campinas se encontrava.

2 comentários:

Nalita disse...

Lamento, mas o argumento aduzido para a suposta omissão da autoria do poema no livro "Cantares" (Nova Realidade) não faz qualquer sentido. Se fosse essa a razão para Zeca Afonso ter "omitido" a autoria de Vicente Campinas, tiveram muitas oportunidades para rectificar a hipotética "omissão" ao longo dos anos após o 25 de Abril. Todas as referências nas várias edições do disco "Cantigas do Maio", de 1971, assim como as sucessivas colectâneas editadas com os poemas de José Afonso, e foram várias a partir de 1966 (Nova Realidade) até ao "Textos e Canções" (1.ª edição ainda em vida de José Afonso, em 1983), incluem o poema "Cantar Alentejano" em nome de José Afonso. Estranha e sem sentido esta narrativa. Porque nunca correu em vida de ambos: José Afonso e Vicente Campinas? José Afonso fez a canção em 1964, cantou-a pela primeira vez em Grândola, quando foi lá cantar a convite da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, exatamente no dia em que se completavam dez anos após a morte de Catarina assassinada pelo tenente Carrajola. José Afonso quis homenageá-la, deu conta disso numa carta enviada aos pais poucos dias depois. Vicente Campinas também escreveu um poema dedicado à malograda ceifeira de Baleizão a que deu o título de "Catarina", um longo poema publicado na Bélgica em edição bilingue. Contactem a Biblioteca Vicente Campinas de Vila Real de Santo António, darão devida conta do que aqui afirmo.

cid simoes disse...

Muito grato pelo esclarecimento.