quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

AS VOZES OUVIDAS - Alfredo Pérez Alencart

AS VOZES OUVIDAS

“Não sabes como ouvir a tua voz me ajuda”,
diz o pai, lá longe, muito longe do filho,
que telefona para estar em comunhão
sob as suas comovedoras existências,
roçando o espaço do mundo, o ar
das ondas que transmitem suas vozes,
o minuto da troca de palavras.
Não pode ser indizível esta verdade
que ambos ouvem e sentem, ao telefone,
esperando a vez de simples frases
que iludam geografias ou transmitam
parcos testemunhos dos dois extremos,
felizes partituras do milagre de existir,
esforços que vão, intuições que vêm…
Ouvem-se as vozes nas entranhas,
na medula óssea de cada um, rasto
ou melodia familiar e intransferível
na cavidade auditiva enquanto o pai
fala e o filho, que anula
os inevitáveis vazios da existência, escuta.
“Não sabes como ouvir a tua voz me ajuda”,
repete o pai, e o filho sente-o próximo
quando vai terminar, enquanto promete:
“Vou telefonar-te todas as semanas”.

Alfredo Pérez Alencart
(Tradução de Albano Martins)


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