MALDIÇÃO
(poema a Salazar)
Por ti, pelo teu ódio à Liberdade
à Razão e à Verdade,
a tudo o que é viril, Humano e moço,
a fome e o luto apagaram os lares
e os homens agonizam aos milhares
no exílio, no hospital, no calabouço.
Por ti raivoso abutre
cujo apetite sôfrego se nutre
de lágrimas, de gritos, de aflições
gemem nas aspas da tortura
ou baixam em segredo à sepultura
os mártires que atiras às prisões.
A este claro Povo, herói dos povos,
que deu ao Mundo mundos novos,
mais estrelas ao Céu, mais luz ao dia;
a este livre e luminoso Apolo
atas as mãos, os pés e o colo,
e encerras numa lôbrega enxovia.
Falas do céu, como um doutor no templo
mas tu encarnação e vivo exemplo
da hipocrisia vil dos fariseus,
pelos sagrados laços que desunes,
pelos teus crimes, até hoje impunes
roubas ao mesmo crente a fé em Deus.
Passas... e mirra a erva nos caminhos,
as aves, com terror, fogem aos ninhos,
e ao ver-te o vulto gélido e felino,
mulheres e mães, lembrando os lastimosos
casos de irmãos, de filhos ou de esposos,
bradam crispadas as mãos: Assassino! Assassino!
Passas... e até os velhos, cujos anos
têm costumado a monstros e tiranos
dizem, com a boca cheia de ira e asco:
- Sobre esta Pátria mísera que oprimes,
jamais alguém foi réu de tantos crimes.
Vai-te! Basta de vítimas! Carrasco!
Passas... e ergue-se, vai de vale a cerro
dos hospitais, do fundo das masmorras
às inospitas plagas do desterro,
um coro de ais, de imprecações, de morras.
São multidões que rugem num só brado:
- Maldita a hora em que tu foste nado!
- Que se malogre tudo quanto almejas;
- Conturbem-se os teus dias de aflição;
- Neguem-te as fontes água, a terra pão
e as estrelas a luz - Maldito sejas!
Jaime Cortesão
à Razão e à Verdade,
a tudo o que é viril, Humano e moço,
a fome e o luto apagaram os lares
e os homens agonizam aos milhares
no exílio, no hospital, no calabouço.
Por ti raivoso abutre
cujo apetite sôfrego se nutre
de lágrimas, de gritos, de aflições
gemem nas aspas da tortura
ou baixam em segredo à sepultura
os mártires que atiras às prisões.
A este claro Povo, herói dos povos,
que deu ao Mundo mundos novos,
mais estrelas ao Céu, mais luz ao dia;
a este livre e luminoso Apolo
atas as mãos, os pés e o colo,
e encerras numa lôbrega enxovia.
Falas do céu, como um doutor no templo
mas tu encarnação e vivo exemplo
da hipocrisia vil dos fariseus,
pelos sagrados laços que desunes,
pelos teus crimes, até hoje impunes
roubas ao mesmo crente a fé em Deus.
Passas... e mirra a erva nos caminhos,
as aves, com terror, fogem aos ninhos,
e ao ver-te o vulto gélido e felino,
mulheres e mães, lembrando os lastimosos
casos de irmãos, de filhos ou de esposos,
bradam crispadas as mãos: Assassino! Assassino!
Passas... e até os velhos, cujos anos
têm costumado a monstros e tiranos
dizem, com a boca cheia de ira e asco:
- Sobre esta Pátria mísera que oprimes,
jamais alguém foi réu de tantos crimes.
Vai-te! Basta de vítimas! Carrasco!
Passas... e ergue-se, vai de vale a cerro
dos hospitais, do fundo das masmorras
às inospitas plagas do desterro,
um coro de ais, de imprecações, de morras.
São multidões que rugem num só brado:
- Maldita a hora em que tu foste nado!
- Que se malogre tudo quanto almejas;
- Conturbem-se os teus dias de aflição;
- Neguem-te as fontes água, a terra pão
e as estrelas a luz - Maldito sejas!
Jaime Cortesão
(publicado
no jornal clandestino
"A Verdade", em Janeiro de 1934)
Sem comentários:
Enviar um comentário