Vamos, pátria,
caminhemos
Vamos, pátria,
caminhemos, eu te
acompanho.
Descerei aos abismos
que me
indiques.
Beberei teus cálices amargos.
Ficarei cego para que tenhas olhos.
Ficarei sem voz para que cantes.
Hei-de morrer para que não morras,
para que
o teu rosto
emerja flamejante no horizonte
de cada flor que nasça
dos meus ossos.
Tem que ser assim, é indiscutível.
Já me
cansei de comigo levar
as tuas lágrimas.
Agora quero caminhar
contigo, relampejante.
Acompanhar-te no teu
caminho, porque
sou um homem
do povo,
nascido em Outubro
para a face
do mundo.
Ai, pátria.
Aos coronéis que
mijam os teus muros
temos que os arrancar pela raiz,
pendura-los numa árvore
coberta de geada,
com a ira
do povo.
Por ele
peço que caminhemos juntos.
Sempre
com os camponeses
e os operários,
Com quem
tenha um coração
para querer-te.
Vamos, pátria,
caminhemos, eu te
acompanho.
Vámonos patria a caminar
Vámonos patria a caminar, yo te
acompaño.
Yo bajaré los abismos que me digas.
Yo beberé tus
cálices amargos.
Yo me
quedaré ciego para que
tengas ojos.
Yo me
quedaré sin voz para
que tú cantes.
Yo he de morir para
que tú no mueras,
para que emerja tu rostro
flameando al horizonte
de cada
flor que
nazca de mis huesos.
Tiene que
ser así, indiscutiblemente.
Ya me
cansé de llevar tus lágrimas
conmigo.
Ahora quiero caminar contigo, relampagueante.
Acompañarte en tu jornada, porque soy un hombre
del pueblo, nacido en octubre para la faz del mundo.
Ay, patria,
a los coroneles
que orinan tus
muros
tenemos que
arrancarlos de raíces,
colgarlos en un árbol de rocío agudo,
violento de cólera del
pueblo.
Por ello pido que
caminemos juntos. Siempre
con los campesinos
agrarios
y los obreros sindicales,
con el que
tenga un corazón para quererte.
Vámonos patria a caminar, yo te acompaño.
O
suplício e a morte
Otto René Castillo foi levado
para uma base
militar na cidade
de Zacapa
e ali
barbaramente torturado e mutilado. Como
manteve heroicamente o
silêncio sem entregar qualquer informação
sobre os quadros
da organização,
um capitão do exército,
enquanto recitava debochadamente os versos do seu
poema Vámonos pátria a caminar, ia cortando seu
rosto com
uma lâmina de
barbear. Diante
de seu silêncio,
passaram a queimá-los vivos – o poeta e Nora,
seu amor – entre os
dias 19 a 23 de março,
martirizados num lento suplício,
inenarrável na expressão humana.
O poeta e ensaísta salvadorenho Roque
Dalton descreveu com
as seguintes palavras
os últimos momentos
de seu
camarada: “Seus próprios verdugos testemunharam sua
coerência e sua
coragem ante
o inimigo, à tortura
e à morte: morreu como
um inquebrantável
lutador revolucionário,
sem ceder um milímetro no
interrogatório, reafirmando seus princípios embasados no marxismo-leninismo,
em seu
fervente patriotismo
guatemalteco e internacional,
em seu
convencimento de estar
seguindo – por sobre
todos os riscos
e derrotas temporais
– o único caminho
verdadeiramente
libertário para nossos povos, o caminho
da luta armada
popular.”
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