domingo, 7 de junho de 2020

AOS SENHORES DA OCASIÃO E DA GUERRA - Carlos Nejar


AOS SENHORES DA OCASIÃO E DA GUERRA

A vós que me despejastes,
nesta loucura sem telhas
e neste chão de desastres,
acaso devo ajoelhar-me
e bendizer as cadeias?

E ser aquele que acata
as ordens e ser aquele
apaziguado e cordato,
preso às aranhas e às teias;

Levando o “sim” em uma das mãos
e o “não” noutra, rastejante
aos senhores da ocasião e da guerra,
ser no chão
o inseto e sua caverna?

Corrente serei
no recuo das águas.
Resina aos frutos do exílio.
Espúrio entre as bodas.
Resíduo.

Até poder elevar-me
com a força de outras asas,
para os meus próprios lugares.

A vós que me despejastes,
nesta loucura sem telhas
e neste chão de desastres,
com a resistência das penas,
aceitarei o combate.

in 'Árvore do Mundo'

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