segunda-feira, 24 de agosto de 2020

MÃOS - Olinda Beja

  

MÃOS

límpidas mãos que na noite se erguem
pedintes de óbolos que outras mãos espargem

na rota do sândalo buscam essas mãos
a essência pura de África milenar

mãos esguias rudes mãos pretas de cor
lívidas de pensamento
doridas mãos que embalaram sóis
e luas e estrelas
e vidas sem porvir
mãos que desenharam rostos e palavras
e todas as cores das aves solitárias
mãos que colheram café e gengibre e fruta-pão
mãos doces como mel de abelhas em cresta de junho
profundas e místicas como amêndoas do Shara
mãos que acenderam lamparinas
para varrer da noite a escuridão
mãos que adormeceram como borboleta
em cima de uma flor
mãos de avó, de mãe, de irmã
mãos de todas as mulheres que carregam nas costas
a imortalidade do universo
para vós este poema
perfumado de
cajamanga

 

Olinda Beja

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