O cheiro do corredor
O
corredor do hospital onde se aguarda a noticia é
escuro
e abafado. As cadeiras de plástico (polidas e
pacientes) aceitam familiares com um
único objectivo: «positivo
ou negativo?» O medo bebe um cigarro
(fuma o terceiro café)
julgando furtar-se ao cheiro que habita o
corredor –
um cheiro iniludível que invade a memória
acerbando a angústia que antecede
o veredicto: «negativo
ou positivo?» As mãos tecem litanias
algemadas a um terço (a esperança é o nervo
quando a crença é o músculo) e o
cheiro do corredor fica colado à resposta que
chega pelo fim do dia devolvendo
ordem ao mundo: «Negativo.»
«Negativo?»
«É negativo.»
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