Os julhos…
I
Os julhos foram-se embora como comboios sem volta.
Nem freixos sentinelam já o canal, esse mesmo a que vinham beber as leiras, animais horizontais povoando o deserto.
Onde a pessoa não é, é o deserto:
o pior deserto é porém o pessoal, aí onde se fica
sem reflexo nem reflexão.
Cândido diz-nos:
– Quem janta vinho, almoça água.
É o Povo a falar por boca-língua-dentes dele, pobre rapaz.
Enerva-se Nilo:
– A estupidez é a mais viçosa das ervas-daninhas.
Mas não é contra Cândido que se enerva ele, sim contra o predomínio dos idiotas-da-turma subidos à ponte-do-navio.
E insiste:
– A burrice é capaz de encher a oficina do sapateiro e os museus todos às segundas-feiras.
Mas o que deveras o exaspera é cada maçã reiterar em si a condição de desdentado, não pode, há já muitos anos, morder a bela pêra-de-inverno da avoenga quinta, pois que à natural ferradura dental sucedeu a coroa acrílica – e, aos olhos, cus-de-garrafa deformando em fundo-de-poço a curvatura ex-arcoiridescente da nitidez juvenil.
É úrgica & cirúrgica a cura do vinho pelo chá, do absinto pela tangerina espremida.
Ai os julhos, esses desavindos connosco julhos!
[continua AQUI]
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Quinta-feira
15 de Julho de 2021
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