segunda-feira, 7 de julho de 2025

“Soneto exposto” - Amadeu Baptista

 

“Soneto exposto”

(ou uma certa ideia de memória do país)

O desengonçado trânsito cavernícola.
A eterna crise com os dentes afiados.
Um país de paisagens marítimas e vinícolas,
em que uns são filhos e outros enteados.

O recorte da serra na distância.
Os pardais semoventes sobre as praças.
Alguns homens sombrios com a ânsia
de não serem roídos pelas traças.

O redil organizado como um caos.
Uns quantos menos bons e outros muito maus.
Uma planície, uma cidade, um chaparral.

E em volta disto o mar, sempre indiferente
do que queira ou não queira a sua gente.
E fica no soneto exposto Portugal.

Amadeu Baptista

quinta-feira, 3 de julho de 2025

“África” - Jacques Romain

 

 “África”

Tenho guardado tua recordação.

África, estás em mim

como a farpa na ferida,

como um fetiche tutelar no meio da aldeia.

Faça de mim a pedra de sua funda,

de minha boca os lábios de sua chaga,

de meus joelhos as colunas quebradas

de tua humilhação

No entanto,

não quero ser mais do que de vossa raça,

operários camponeses de todos os países…

operário branco de Detroit, peão negro do Alabama.

Povo inumerável das galés capitalistas,

o destino nos ergue ombro a ombro

e renegando o antigo malefício

dos tabus do sangue

pisamos os escombros de nossas solidões.

Se a torrente é fronteira

arrancaremos das barrancas sua cabeleira impossível de conter

Se a serra é a fronteira

romperemos a mandíbula dos vulcões

que reforçam as Cordilheiras

e a planície será a esplanada da aurora

onde reuniremos nossas forças esquartejadas

pela astúcia de nossos patrões.

Como a contradição dos traços

se resolve na harmonia do rosto

proclamamos a unidade do sofrimento

e da rebelião

de todos os povos em toda a superfície da

terra

e no pilão dos tempos fraternais

misturamos a massa

no pó dos ídolos.

Jacques Romain

 

Peço a Paz - Casimiro de Brito

Peço a Paz

Peço a paz
e o silêncio

A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento

Peço a paz
e meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pão

Peço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morte

A paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol

Peço a paz e o
silêncio

Casimiro de Brito

in "Jardins de Guerra"

terça-feira, 1 de julho de 2025

Nós ensinamos vida, senhor - Rafeef Ziadeh

 

Nós ensinamos vida, senhor

Hoje, meu corpo foi um massacre televisionado.
Hoje, meu corpo foi um massacre televisionado que teve de caber em frases de efeito e limite de palavras.
Hoje, meu corpo foi um massacre televisionado que teve de caber em frases de efeito e limite de palavras preenchido o bastante com estatísticas para se contrapor à resposta comedida.
E eu aperfeiçoei meu inglês e aprendi minhas resoluções da ONU.
Mas, mesmo assim, ele me perguntou, Sra. Ziadah, você não acha que tudo estaria resolvido se vocês parassem de ensinar tanto ódio para as suas crianças?
Pausa.
Eu procuro dentro de mim força para permanecer paciente, mas paciência não está na ponta da minha língua enquanto as bombas caem sobre Gaza.
A paciência acabou me escapando.
Pausa. Sorriso.
Nós ensinamos vida, senhor.
Rafeef, lembre-se de sorrir.
Pausa.
Nós ensinamos vida, senhor.
Nós palestinos ensinamos vida depois de eles terem ocupado o último céu.
Nós ensinamos vida depois de eles terem construído suas colónias e paredes de apartheid, depois dos últimos céus.
Nós ensinamos vida, senhor.
Mas hoje, hoje meu corpo foi um massacre televisionado feito para caber em frases de efeito e limite de palavras.
E dê-nos apenas uma história, uma história humana.
Veja, não é político.
Nós só queremos contar para as pessoas sobre você e seu povo então dê-nos uma história humana.
Não use aquela palavra “apartheid” e “ocupação”.
Não é político.
Você tem que me ajudar como jornalista a te ajudar a contar sua história que não é uma história política.
Hoje, meu corpo foi um massacre televisionado.
Que tal você nos dar uma história de uma mulher em Gaza que precisa de medicação?
Que tal você?
Você tem membros de ossos quebrados o bastante para cobrir o Sol?
Me passe os seus mortos e me dê uma lista com os seus nomes em um limite de mil e duzentas palavras.
Hoje, meu corpo foi um massacre televisionado que teve de caber em frases de efeito e limite de palavras e emocione aqueles que são insensíveis a sangue terrorista.
Mas eles sentiram pena.
Sentiram pena pelo gado em Gaza.
Então eu dei a eles resoluções da ONU e estatísticas e nós condenamos e nós lamentamos e nós rejeitamos.
E estes não são dois lados iguais: ocupador e ocupado.
E uma centena de mortos, duas centenas de mortos e mil mortos.
E, neste meio tempo, crime de guerra e massacre, eu descarrego palavras e sorrio “não exótica”, “não terrorista”.
E eu reconto, eu reconto uma centena de mortos, mil mortos.
Tem alguém aí fora?
Alguém ouvirá?
Eu gostaria de poder lamentar sobre seus corpos.
Eu gostaria simplesmente de poder correr de pés descalços em cada campo de refugiados e segurar cada criança, cobrir seus ouvidos para que elas não tivessem que ouvir o som dos bombardeios pelo resto de suas vidas como eu tenho.
Hoje, meu corpo foi um massacre televisionado
E deixe-me te dizer, não há nada que as suas resolução da ONU tenham feito em relação a isto.
E nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito que eu possa apresentar, não importa o quão bom fique meu inglês, nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito, nenhuma frase de efeito vai trazê-los de volta à vida.
Nenhuma frase de efeito vai concertar isto.
Nós ensinamos vida, senhor.
Nós ensinamos vida, senhor.
Nós palestinos acordamos a cada manhã e ensinamos ao resto do mundo vida, senhor.

Rafeef Ziadeh

Tradução por Tomaz Amorim Izabel

Today, my body was a TV’d massacre.
Today, my body was a TV’d massacre that had to fit into sound-bites and word limits.
Today, my body was a TV’d massacre that had to fit into sound-bites and word limits filled enough with statistics to counter measured response.
And I perfected my English and I learned my UN resolutions.
But still, he asked me, Ms. Ziadah, don’t you think that everything would be resolved if you would just stop teaching so much hatred to your children?
Pause.
I look inside of me for strength to be patient but patience is not at the tip of my tongue as the bombs drop over Gaza.
Patience has just escaped me.
Pause. Smile.
We teach life, sir.
Rafeef, remember to smile.
Pause.
We teach life, sir.
We Palestinians teach life after they have occupied the last sky.
We teach life after they have built their settlements and apartheid walls, after the last skies.
We teach life, sir.
But today, my body was a TV’d massacre made to fit into sound-bites and word limits.
And just give us a story, a human story.
You see, this is not political.
We just want to tell people about you and your people so give us a human story.
Don’t mention that word “apartheid” and “occupation”.
This is not political.
You have to help me as a journalist to help you tell your story which is not a political story.
Today, my body was a TV’d massacre.
How about you give us a story of a woman in Gaza who needs medication?
How about you?
Do you have enough bone-broken limbs to cover the sun?
Hand me over your dead and give me the list of their names in one thousand two hundred word limits.
Today, my body was a TV’d massacre that had to fit into sound-bites and word limits and move those that are desensitized to terrorist blood.
But they felt sorry.
They felt sorry for the cattle over Gaza.
So, I give them UN resolutions and statistics and we condemn and we deplore and we reject.
And these are not two equal sides: occupier and occupied.
And a hundred dead, two hundred dead, and a thousand dead.
And between that, war crime and massacre, I vent out words and smile “not exotic”, “not terrorist”.
And I recount, I recount a hundred dead, a thousand dead.
Is anyone out there?
Will anyone listen?
I wish I could wail over their bodies.
I wish I could just run barefoot in every refugee camp and hold every child, cover their ears so they wouldn’t have to hear the sound of bombing for the rest of their life the way I do.
Today, my body was a TV’d massacre
And let me just tell you, there’s nothing your UN resolutions have ever done about this.
And no sound-bite, no sound-bite I come up with, no matter how good my English gets, no sound-bite, no sound-bite, no sound-bite, no sound-bite will bring them back to life.
No sound-bite will fix this.
We teach life, sir.
We teach life, sir.
We Palestinians wake up every morning to teach the rest of the world life, sir.

 

 

 

domingo, 29 de junho de 2025

Os Últimos Dias Da Humanidade - Karl Kraus

 

Os Últimos Dias Da Humanidade

 O Eterno Descontente: É esta a guerra mundial.

É este o meu manifesto.

Tudo maduramente ponderei.

Tomei sobre mim a tragédia

que se decompõe nas cenas da

humanidade em decomposição,

para que a ouvisse o espírito

disposto a apiedar‑se das

vítimas, mesmo que ele próprio

tivesse renunciado para todo

sempre à ligação com um

ouvido humano.

Ele que capte a nota dominante desta

época, o eco da minha loucura

sangrenta, que me torna cúmplice

de todo este alarido.

Ele que a aceite como redenção!

Karl Kraus


segunda-feira, 23 de junho de 2025

FLOR DA LIBERDADE - Miguel Torga

 

FLOR DA LIBERDADE


Sombra dos mortos, maldição dos vivos.
Também nós... Também nós... E o sol recua.
Apenas o teu rosto continua
A sorrir como dantes,
Liberdade!
Liberdade do homem sobre a terra,
Ou debaixo da terra.
Liberdade!
O não inconformado que se diz
A Deus, à tirania, à eternidade.

Sepultos insepultos,
Vivos amortalhados,
Passados e presentes cidadãos:
Temos nas nossas mãos
O terrível poder de recusar!
E é essa flor que nunca desespera
No jardim da perpétua primavera.

Miguel Torga

 

 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Geografia da areia - Antonio Gamoneda

 

Geografia da areia

O mapa de coral repousa

esperando o retorno da onda

assim, o Desperto,

sereno retorna

ao mar da Consciência Pura.

Antonio Gamoneda

 

Geografía de arena

El mapa de coral descansa

esperando el retorno de la ola

así, el Despierto,

sereno retorna

al mar de la Conciencia Pura.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Cantam ao longe - Carlos Queirós Ribeiro

 

Cantam ao longe

Cantam ao longe. Anoitece.
Faz frio pensar na vida;
E a natureza parece
Dizer em voz comovida,
Que o homem não a merece.

 

Carlos Queiróz Ribeiro

sábado, 14 de junho de 2025

O medo e a esperança - Fernando Couto

 

O medo e a esperança

 

Tranquilo e devagar entro na aldeia

de mão ao alto aberta em sinal de paz

Desertas e contudo palpitantes

se encontram ainda as palhotas 

 

No único rosto presente é visível

o medo está atento procurando antecipar-se

nos meandros da incómoda adivinha

 

Falo e sorrio e entreteço pontes de caniço

e não sei estendê-las até à outra margem:

fechado e atento o rosto em frente do meu

entremeia um rio sem vau e sem barcos

de águas opacas e demasiado largo

 

Procuro na memória de distantes avós

autênticos e críveis sinais de paz

e ao fazê-lo acordo aves de lembranças

de ventres pejados de sangue e ódios

e apenas avivo o rosto em frente as cores do medo

 

Olho o meu braço estendido e nu

inofensivo e pronto à espera do acolhimento

e no rosto em frente projecta-se uma sombra

a dolorosa sombra-lembrança de um chicote

E o medo ganha relevo no rosto escuro

atento e vigilante à porta da palhota:

 

pergunto aos teus olhos e às tuas costas

à tua carne e ao abismo dos teus olhos

onde e quando brotou a fonte desse medo

— como se eu fosse o deus vivo do raio

e fizesse empalidecer o teu rosto cor de noite

a ti que nunca me viste e contudo és valente

e já viste de perto a fome de feras em liberdade

 

Quero perguntar de frente aos teus olhos

e a tua cabeça pende como um ramo

ameaçado de morte com o peso dos frutos

prestes a perderem-se inúteis em chão batido

Quero perguntar-te e não sei os gestos

nem as palavras mágicas ou compreensíveis

para conjurar a mancha de medo

que ensombra o teu rosto esculpido em negro

 

Não sei os gestos e as palavras mágicas

e todavia não desisto e procuro

certo de haver uma ponte praticável

entre os meus e os teus olhos erguidos.

 Fernando Couto

- Fernando Couto, em "Rumor de água" (antologia poética).. [Organização Ana Mafalda Leite]. Maputo: Editorial Ndjira, 2007.

 


quinta-feira, 12 de junho de 2025

O MUNDO NOVO - José Augusto Aires Torres

 

O MUNDO NOVO

 

O mundo que aí vem...

É o que a gente imagina! E o que se espera!

E a pena que se tem

De já não sermos nós a ver a nova era!

Afinal, sem razão, pensando bem:

Se o mundo é sempre novo em cada hora,

E se, nos anos todos que se contem,

Não deve haver dois dias iguais,

Bem podemos, sem pena ir embora...

Que, amanhã, como hoje, como ontem,

Sempre se há-de nascer cedo de mais.

José Augusto Aires Torres

Aires Torres, in Jornal de Felgueiras, n.º 2450, 8 de Agosto de 1959.

terça-feira, 10 de junho de 2025

Há guerras que se perdem - Jesús López Pacheco

 

Há guerras que se perdem

 

“Há guerras que se perdem mas nunca estão perdidas.

Sob a paz, imposta pela guerra,

o povo cala, espera e não se esquece.

Há mortos que não morreram, ideias sempre vivas.

Escrevo-te, Rafael, para dizer

que tudo está acontecendo, entretanto.”

Jesús López Pacheco

 

Hay guerras que se pierden

 

“Hay guerras que se pierden y nunca están perdidas.

Bajo la paz, impuesta por la guerra,

el pueblo calla, espera y no se olvida.

Hay muertos que no han muerto, ideas siempre vivas.

Te escribo, Rafael, para decirte

que está ocurriendo todo, todavía.”

 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Escola da ONU, Jabalia, Gaza - João Pedro Mésseder

 

Escola da ONU, Jabalia, Gaza

 

Sangue nas paredes,

sangue no chão,

sangue nos quadros, nas mesas, nos placards,

sangue nos livros, nos cadernos, nos brinquedos.

 

Durante o sono?

Depois do sono?

 

O alfabeto do sangue,

a subtração do sangue,

a soma do sangue,

a multiplicação do sangue.

 

Não houve divisão,

era todo

sangue palestino.

 

João Pedro Mésseder

(A quem pertence a linha do horizonte) 30-07 2014

 

 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

“Sonho americano” - Jesús López Pacheco

 


“Sonho americano”

... sí che la tema si volve in disio.

Dante, Inferno, III, 126

No inferno dos consumidores

os condenados vivem no paraíso triste

da falsa abundância fugitiva.

Envoltos numa neblina de desejos

insatisfeitos, mas sempre renovados.

São livres de comprar vendendo a alma

e, escravos de suas pobres propriedades nunca suas,

não fazem a digestão jamais sem hipoteca.

O crânio lhes perfura, gota a gota,

uma secreta admiração pelos canalhas.

E todos são de todos a cada dia

corretos inimigos sorridentes

que nas primeiras páginas e nos écrans bebem

lentamente o desprezo por si mesmos,

uma desconfiança doentia da vida

e o sonho sujo de viver sem ser humanos.

Jesús López Pacheco

“Sueño americano”

... sí che la tema si volve in disio.

Dante, Inferno, III, 126

En el alegre infierno de los consumidores

los condenados viven en el paraíso triste

de la falsa abundancia fugitiva.

Los envuelve una bruma de deseos

insatisfechos, pero renovados siempre.

Son libres de comprar vendiendo el alma

y, esclavos de sus pobres propiedades nunca suyas,

no hacen la digestión jamás sin hipoteca.

El cráneo les horada, gota a gota,

una secreta admiración por los canallas.

Y todos son de todos cada día

correctos enemigos sonrientes

que en las primeras páginas y en las pantallas beben

lentamente el desprecio por sí mismos,

una desconfianza enferma de la vida

y el sueño sucio de vivir sin ser humanos.

Jesús López Pacheco


domingo, 1 de junho de 2025

Sonambulismo - Joaquim Namorado

 

Sonambulismo

Tombam os dias inúteis:
amanhece, é tarde, anoitece.
Mas a nós que nos importa
ser manhã, meio dia ou noite?!...
Sonâmbula a vida decorre
- nas ruas, a paz larvar dos grandes cemitérios;
dentro de nós, cada um
apodrece.
Enchem-se de títulos vibrantes os jornais
- mas tudo é tão longe...
Passam homens por homens e não se conhecem:
Boa tarde! Bom dia!
Cada um fechado nas suas fronteiras,
os gestos vazios,
a vida sem sentido
- sonambulismo apenas.

Acorda!
Ainda que seja só para o sobressalto,
que as ilusões do sonho se desfaçam
e as esperanças morram todas nessa hora!

Acorda!
ainda que o caminho a percorrer te espante
e o peso da obra a realizar te esmague!

Ainda que acordar seja
morrer depois aos poucos, em cada momento,
dolorosamente


Joaquim Namorado

in 'Agora'

 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Efraín Huerta - Hoje assinei a Paz.

 

Hoje assinei a Paz

Sob as altas árvores da Alameda

e uma jovem com olhos de esperança.

Junto com ela, outras jovens pediram mais assinaturas

e aquela hora foi como uma pátria iluminada

do amor ao amor, da graça pela graça,

de uma luz para outra luz.

Hoje assinei a Paz.

E comigo, em cem países, cem milhões de assinaturas,

cem orquestras do mundo, uma sinfonia universal,

uma única canção pela Paz no mundo.

Hoje não assinei o poema nem os pequenos artigos,

nem o documento que te escraviza,

Eu não assinei a carta que não sente

nem a mensagem que durará um segundo.

Hoje assinei a Paz.

Para que o tempo não pare,

para que o sonho não imobilize,

para que o sorriso seja alto e claro,

para que uma mulher aprenda a ver seu filho crescer

e os alunos do filho veem como sua mãe fica cada dia mais jovem.

Hoje dei uma assinatura, minha, pela Paz.

Um mar de assinaturas que afogam e atordoam

ao industrial e ao político da guerra.

Uma onda gigantesca de assinaturas gigantescas:

o tremor da criança que mal balbucia a palavra,

que é uma rosa das lágrimas da mãe,

a assinatura da humildade – a assinatura do poeta.

Hoje aumentei em um o número mundial de assinaturas pela Paz.

E estou feliz como um adolescente apaixonado,

como uma árvore em pé,

como a primavera inesgotável

e como o rio com seu canto de cristais soberbos.

Hoje parece que não fiz nada

e ainda assim, dei a minha assinatura pela Paz.

A jovem sorriu para mim e em seus lábios havia uma pomba viva,

e ele me agradeceu com seus olhos de esperança

e continuei meu caminho em busca de um livro para meus filhos.

Bem, lá estava a minha assinatura, precisa e clara,

ao pé do Apelo de Berlim.

Parece que não fiz nada

e ainda assim, acredito que multipliquei minha vida

e multiplicou os desejos mais saudáveis.

Hoje assinei a Paz.

Autógrafo

Archivo:Efraín Huerta (firma).svg - Wikipedia, la enciclopedia libre

Efraín Huerta

 

Hoy he dado mi firma para la Paz

Hoy he dado mi firma para la Paz.
Bajo los altos árboles de la Alameda
y a una joven con ojos de esperanza.
Junto a ella otras jóvenes pedían más firmas
y aquella hora fue como una encendida patria
de amor al amor, de gracia por la gracia,
de una luz a otra luz.
Hoy he dado mi firma para la Paz.
Y conmigo, en cien países, cien millones de firmas,
cien orquestas del mundo, una sinfonía universal,
un solo canto por la Paz en el mundo.
Hoy no he firmado el poema ni los pequeños artículos,
ni el documento que te esclaviza,
no he firmado la carta que no siente
ni el mensaje que durará un segundo.
Hoy he dado mi firma para la Paz.
Para que el tiempo no se detenga,
para que el sueño no se inmovilice,
para que la sonrisa sea alta y clara,
para que una mujer aprenda a ver crecer a su hijo
y las pupilas del hijo vean cómo su madre es cada día más joven.
Hoy he dado una firma, la mía, para la Paz.
Un mar de firmas que ahogan y aturden
al industrial y al político de la guerra.
Una gigantesca oleada de gigantescas firmas:
la temblorosa del niño que apenas balbucea la palabra,
la que es una rosa de llanto de la madre,
la firma de humildad —la firma del poeta.
Hoy he elevado en una el número mundial de firmas por la Paz.
Y estoy contento como un adolescente enamorado,
como un árbol de pie,
como el inagotable manantial
y como el río con su canción de soberbios cristales.
Hoy parece que no he hecho nada
y sin embargo, he dado mi firma para la Paz.
La joven me sonrió y en sus labios había una paloma viva,
y me dio las gracias con sus ojos de esperanza
y yo seguí mi camino en busca de un libro para mis hijos.
Pues ahí estaba mi firma, precisa y diáfana,
al pie del Llamamiento de Berlín.
Parece que no he hecho nada
y sin embargo, creo haber multiplicado mi vida
y multiplicado los más sanos deseos.
Hoy he dado mi firma para la Paz.