terça-feira, 3 de março de 2020

Um poema, três versões



não havia mais ninguém para reclamar…


Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram
o meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram o meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto ia, vieram e levaram-me;
não havia mais ninguém para reclamar…


1933 (símbolo da resistência ao nazismo)



E porque não dissemos nada…


Na primeira noite, eles aproximam-se
e colhem uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada.


Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam o nosso cão.

Nada dizemos.


Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
nada podemos dizer.

(1893/1930)


Como eu não me importei com ninguém

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

(1898-1956)

2 comentários:

Janita disse...

A versão de Niemöller já a conhecia e a de Brechet, também.
A outra não, mas também não conhecia o Poeta que, pelo nome, suponho que seja russo.

Uma verdade dita de formas diferentes e pensada da mesma forma.

cid simoes disse...

Obrigado pelas visitas.
Basta clicar no nome do poeta e vai ter à wikipedia.