segunda-feira, 14 de março de 2022

ÚLTIMO POEMA - STEFAN ZWEIG

 

(Desenho de Fernando Campos)

 

ÚLTIMO POEMA

Suave as horas bailam sobre
O cabelo branco e raro.
A áurea taça a borra cobre:
Sorvida, eis o fundo, claro!

Pressentimento da morte
Não turba, é alívio profundo.
O gozo mais puro e forte
Da contemplação do mundo

Só o tem quem nada cobice,
Nem  lamente o que não teve,
Quem já o partir na velhice
Sinta — um partir mais de leve.

O olhar despede mais chama
No instante da despedida.
E é na renúncia que se ama
Mais intensamente a vida.

 

STEFAN ZWEIG

Tradução de MANUEL BANDEIRA.

 

Letztes Gedicht

 

Linder schwebt der Stunden Reigen

Über schon ergrautem Haar,

Denn erst an des Bechers Neigen

Wird der Grund, der goldne, klar.

 

Vorgefühl des nahen Nachtens,

Es verstört nicht ... es entschwert.

Reine Lust des Weltbetrachtens

Kennt nur, wer nicht mehr begehrt,

 

Nicht mehr fragt, was er erreichte,

Nicht mehr klagt, was er gemißt,

Und dem Altern nur der leichte

Anfang seines Abschieds ist.

 

Niemals glänzt der Ausblick freier,

Als im Glast des Scheidelichts,

Nie liebt man das Leben treuer

Als im Schatten des Verzichts.

 

Sem comentários: