A MAIS ALTA TORRE
Sobre si mesmo, movendo-se, o mundo
voltou-se para o outro lado. E tu?
Viras-te para o outro lado de onde vem, segundo ouves,
o seu ruído concentrado na luz — Cego;
ou como se o estivesses já — imaginavas o som
das letras; tacteavas a máquina do canto;
perdias-te no labirinto dos ecos.
Cego; mas tens as mãos e elas uma memória
por fazer. As mãos lembram-se: recordam o coração.
Repetes, recapitulas, recuperas esse gesto antigo:
Estender as mãos em frente —
não para a memória mas para a vida,
não para um sonho mas para a invenção
num gesto ou numa teia de gestos quase
automáticos,
[quase pensativos;
Ver pelas mãos o halo da lua que alucina —
Poisar as mãos na madeira da mesa ou
na pedra do parapeito ou no pescoço alto
por onde subia o canto —
(...)
Sobre si mesmo, movendo-se, o mundo
voltou-se para o outro lado. E tu?
Viras-te para o outro lado de onde vem, segundo ouves,
o seu ruído concentrado na luz — Cego;
ou como se o estivesses já — imaginavas o som
das letras; tacteavas a máquina do canto;
perdias-te no labirinto dos ecos.
Cego; mas tens as mãos e elas uma memória
por fazer. As mãos lembram-se: recordam o coração.
Repetes, recapitulas, recuperas esse gesto antigo:
Estender as mãos em frente —
não para a memória mas para a vida,
não para um sonho mas para a invenção
num gesto ou numa teia de gestos quase
automáticos,
[quase pensativos;
Ver pelas mãos o halo da lua que alucina —
Poisar as mãos na madeira da mesa ou
na pedra do parapeito ou no pescoço alto
por onde subia o canto —
(...)
Manuel Gusmão
"A mais alta torre"
A Terceira Mão, Lisboa: Caminho, pp. 11-14
A Terceira Mão, Lisboa: Caminho, pp. 11-14