Cena XI de Pátria(aqui):
Opiparus:
A fome e a dor bramem de noite,
uivam nas eiras?
Matinadas, clarins, vivas ao rei,
bandeiras.
Alegria! gozar! folgar! nada de
luto!
Bombas! Salvem canhões de minuto a
minuto!
E a cada grito de miséria ou de
estertor
O cantar dum Te-Deum e o rufar dum
tambor.
Dê-se à plebe faminta uma estrondosa
orgia,
Um banquete real, monstro, - em
scenografia!
Que bela idéa! Armar de improviso um
galeão,
- Tábuas, cinábrio, gêsso,
andrinopla e cartão,
- Pô-lo em rodas, tirado a parelhas
d'Alter,
A Côrte dentro, o patriarca, o
chanceler,
El-rei de c'roa d'oiro, a rainha
taful
Asas novas de arcanjo, uma branca
outra azul,
Eu ao leme, pendões, músicas,
auriflamas,
Bispos e generais, o núncio,
arautos, damas,
Com brilhantes a arder em veludo e
em brocado
- Tripulação emfim de baixel
encantado,
A navegar de rua em rua, e praça em
praça,
Atirando à miséria, à nudez, à
desgraça,
A carga inteira a plenas mãos: lôdo
em confeitos,
Gargalhadas, sermões de entrudo
(alguns perfeitos!)
Drogas de charlatães, ditos de
saltimbanco,
Cinza, areia, impudor, fome... e
notas de banco!
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E por último a rir sentamo-nos à
mesa,
A despejar champagne em favor da
pobreza!
Guerra Junqueiro
1 comentário:
Não conhecia, confesso. Mas fiquei encantada.
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