Mãe
Quanto quiseste para o teu filho
Nas horas de haver sonho, Mãe!
E trabalhaste. (Cravaram-se rugas no teu rosto),
Unidas a tua à minha cara num calor de lágrimas
À hora em que a Lua vem dormir no musgo dos telhados.
E trabalhaste sonhando, Mãe, mas esqueceste
que o teu menino ia crescer com a Primavera
e trazia nas mãos de matar sede
a semente do amor;
que era urgente lutar por todos os meninos no ventre
fecundado.
Tu não sabias dos arames farpados,
dos leitos comprados de fingir amor,
da fome a pintar fundo as olheiras dos homens que
passavam.
E sonhavas um mundo de ter tudo.
Mas esquecias as mães em espera inútil
dos filhos que caíram nas estradas,
sob metralhas de povos que eles amavam.
E aqueceste de pranto a minha cara,
(Querias veludo, só veludo, para mim).
Mas esqueceste à força das espigas,
que cresciam nas margens dos riachos de conduzir
sonhos
e as mãos que as estendiam sobre os campos
e cada vez mais forte se apertavam.
Não ouviste as canções dos camponeses
E elas mudaram tanto!
E trabalhaste.
(Cravaram-se, em teu rosto, unhas do tempo).
Mas não sentiste a noite das algemas
nem as botas cardadas sobre as celas
em que queriam fechar a Primavera
e não sabias que o teu menino lindo
era um pouco do pólen dessa Primavera.
Francisco Delgado
, in: AAVV
(1963), Poemas livres 2, Coimbra, Edição dos Autores, pp 37 e 38.
Sem comentários:
Enviar um comentário