O CHARLOT É QUE
SIM
“Creio que uma
das muitas pessoas que
têm razão no mundo
é o Charlot.
É certo que passa fome, tem o seu
frio no Inverno
e as botas todas gastas,
mas ri-se de muita
coisa,
despreza admiravelmente
a ordem
e vai aguentando as cacetadas
e prisões e outras violências.
No entanto,
o multimilionário
Rockfeller é que passa
por inteligente
e empreendedor e grande,
e honesto e
moralista,
e benfeitor também quando é
preciso.
É evidente que o Rockfeller até
trabalha aos Domingos,
e que isso vai ficar na história dos grandes
feitos de hoje,
mas o que
mais me
alegre são as
vagabundagens do Charlot,
e o orgulho
dele contra as moedas
acumuladas,
e aquele chuto
na ponta do cigarro
ao ir para a prisão,
e esse infinito voltar de costas às fardas,
e o comprar comovidamente
flores à rapariga
cega,
e dar-lhe a mão
depois
e entristecer dos pobres serem tristes.
... É por isso que nunca sonho com o Rockfeller.”
em “Tempo dos Manequins”,
edição do autor, Janeiro
de 1957.
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