sábado, 18 de junho de 2016

O CHARLOT É QUE SIM - Eduardo Valente da Fonseca



O CHARLOT É QUE SIM

“Creio que uma das muitas pessoas que têm razão no mundo é  o Charlot.
É certo que passa fome, tem o seu frio no Inverno e as botas todas gastas,
mas ri-se de muita coisa,
despreza admiravelmente a ordem
e vai aguentando as cacetadas e prisões e outras violências.
No entanto,
o multimilionário Rockfeller é que passa por inteligente e empreendedor e grande,
e honesto e moralista,
e benfeitor também quando é preciso.
É evidente que o Rockfeller até trabalha aos Domingos,
e que isso vai ficar na história dos grandes feitos de hoje,
mas o que mais me alegre são as vagabundagens do Charlot,
e o orgulho dele contra as moedas acumuladas,
e aquele chuto na ponta do cigarro ao ir para a prisão,
e esse infinito voltar de costas às fardas,
e o comprar comovidamente flores à rapariga cega,
e dar-lhe a mão depois
e entristecer dos pobres serem tristes.
... É por isso que nunca sonho com o Rockfeller.”

em “Tempo dos Manequins”,
edição do autor, Janeiro de 1957.

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