Armando
Silva Carvalho vence prémio literário do Correntes de Escritas
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Olha e observa este
vulcão de vozes.
As inúmeras chamas que
desabam nas salas
do poder, aqui, podes
ouvi-las.
Sabes como trabalham as palavras
os tijolos e também
o cimento.
Agora podes vê-los nas operosas visões
do lume, subindo gota
a gota
a estrada incorruptível das
raízes
ao cume.
Os amantes do tempo
sossegam o desejo.
A praça de vidros
cintilantes
ecoa no espaço abrupto cavado pelos sons
que agora te angustiam.
Tens tempo agora de lavar o cérebro
com a alva interior que
cristalizou afagos
ausências e prisões.
Não lamentes o choro
das mães arrepiadas.
Colhe a
participação civil o susto o vento
que acende violento
este clarão
na chuva.
Entraste nas palavras com toda a vertigem
do silêncio.
E o coro desabou sobre
o palácio
as lâminas profundas contra
o solo
fendendo a espessa ganga
o pesadelo.
Olha e observa este
vulcão de luzes.
Miríficas pupilas que
despertam na praça
e recortam no opaco as paredes
dum rosto.
Mas não tentes
exceder-te.
Encontras nos amigos os travos emotivos
a trave que foi
mestra sobre os tetos
da história. Não
sejas como aqueles,
no jogo absorvidos,
de costas para a cidade,
que cultivam lutas
sobre os tabuleiros
e mortos, realmente
mortos,
diziam ainda que
viviam.
(ARMAS BRANCAS – 1977)
- Texto elaborado a partir de
uma manifestação de trabalhadores
da construção civil,
junto ao Palácio
de S. Bento.
12 de Novembro
de 1975