OS
BANCOS
Era
bom descolar dos bancos, erguer o olhar acima
das
cantarias, deste peso rotundo,
desta
massa de cifras, destes arranjos de papéis abstractos,
destes
homens que sou obrigado a ler e ouvir
como
tributo ao facto de estar ainda vivo.
Tudo
isto e o futebol
e
os seus comentadores de camisa aberta,
deprime
a minha idade, mata-me
mais
cedo.
Eu
descubro a febre antes dela me chegar aos membros,
olho-me
ao espelho e pareço um cientista ambulante
desses
que ganham prémios
e
só lhes falta fixamente o próximo
para
alcançarem o cómodo lugar de santos laicos.
As
doenças estendem-se nos mapas
as
pestes são como as mariposas,
e
tudo parece esvoaçar na febre programada.
Mas
melhor mesmo era descolar dos bancos,
subir
acima do mármore, adormecer sem idade nem estrela,
ou
descer tão baixo que a água não consiga encontrar-me,
e
os vermes duma beleza estranha, azul, tão movediça,
venham
beijar-me os poemas, discípulos da morte.
Sim,
descolar dos bancos, encher a boca de terra,
enfim,
saber dormir.
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