Pág. Juvenil República 11.608
– 7-5-1963
Primeiro poema para a manhã
Agora sou a criatura que prepara as asas
para o voo
sou o chefe da estação
que se esqueceu de apitar
sou a beata que
falhou na missa
aparentemente o barro
solto num jardim
perdido perdido
na imensidade das mãos
das curvas e dos sons das névoas
que elas
traçam
Sim hoje
amor a tarde
ou a manhã
de nunca
hoje as balas o sangue
a confusão
decisivas horas que se arrastam sem
cor
e cerram janelas pombas de luto vermelho
Agora a partida
com aviões
silenciosos
aéreos e possíveis
os desejos
a dança a enxada
o campo juncado de berros oceânicos
as trevas a noite
grandes infindáveis
e na sombra das casas
a luz brilha
e a esperança nasce
no grito do miúdo
da quinta geração
de estátuas
nas asas do primeiro
anti-porteiro
Agora hoje
choro sinto
o canto sobe
e há arestas quebradas
montras sem vidros
e bolos agora
há bolos pão
e fome saciada
sou como um
café
de muitos agrupados muitos de comboio
e sempre direitos
Na metamorfose fatal
o grito assoma
a criança rompe a dieta o leito
e pela primeira
vez
é um chefe
de estação esquecido
uma beata revoltada
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