Lágrimas – flores
Únicas flores que a alquimia
dos anos
consegue destilar das flores da vossa
cólera
jovem e generosa,
maltratada
de injustiças e
patas de cavalos,
de incompreensões
cegas
de vencidas sabedorias
contumazes –
Lágrimas –
Lágrimas –
Quando as flores
que eu
queria
pra juntar às vossas
eram rosas
de sangue de revolta.
(Junho de 1969)
2 comentários:
Repare-se na data deste poema de Paulo Quintela, que foi professor catedrático da Universidade de Coimbra: Junho de 1969. Estava-se então no auge da crise académica de 1969, em Coimbra, com a greve que os estudantes fizeram aos exames e com a feroz repressão protagonizada pela GNR e, como não podia deixar de ser, pela PIDE. Uma novidade relativamente a outras situações semelhantes acontecidas anteriormente: como a PIDE não estava a ser capaz de fazer frente aos estudantes em luta (os pides que fossem apanhados dentro da Associação Académica, por exemplo, levavam tareias mestras dos estudantes), a Polícia Judiciária entrou em ação e fez de PIDE também. Não me lembro de que alguém tenha chamado a devida atenção para o odioso papel que a PJ também desempenhou nessa altura, na repressão dos estudantes de Coimbra.
Paulo Quintela, que nesse tempo era catedrático da Faculdade de Letras, foi um dos pouquíssimos professores que se puseram do lado dos estudantes, assim como Orlando de Carvalho. Por causa desta sua posição, Paulo Quintela foi alvo de ameaças de morte e uma bomba destruiu o seu carro.
A luta dos estudantes de Coimbra em 1969 apresentou diversos aspetos que foram inéditos até então. Um deles foi a chamada "Operação Balão", em que os estudantes largaram centenas de balões sobre a cidade de Coimbra, acompanhados de mensagens escritas, tais como "Liberdade", "Democracia" e "Por uma universidade nova". Uma outra "operação" foi a chamada "Operação Flor", em que os estudantes compraram todas as flores que havia à venda nos mercados da cidade e ofereceram essas flores à população, ao mesmo tempo que diziam "Paz e Liberdade". É precisamente a esta "Operação Flor", assim como à repressão por parte da GNR a cavalo, que este poema de Paulo Quintela faz referência.
Obrigado pela visita é pelo excelente comentário.
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