domingo, 10 de junho de 2018

O COMUM DA TERRA - Eugénio de Andrade

3 de maio de 1921 – 11 de junho de 2005

O COMUM DA TERRA

"a  Vasco Gonçalves

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade
14/5/76, in Companheiro Vasco,
Inova, Set. 1977

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