Panfleto
Fere-me
esta idolatria mais do que todos os crimes:
Tanto
fervor desviado e perdido!
Tanta
gente ajoelhando à passagem do tempo
e
tão poucos lutando para lhe abrir caminho!
Há
uma vida inteira a jogar e gastar
no
pano verde imenso das campinas do mundo.
Há
desertos cativos de uma ausência dos povos.
Há
uma guerra devastando a vida,
enquanto
a supuserem redimida!
E
em nós a redenção quase perdida!...
Vamos
rasgar, ó poetas, esta mentira da alma,
vamos
gritar aos homens que os enganam,
que
não é a força, que não é a glória,
que
não é o sol nem a lua nem as estrelas,
nem
os lares nem os filhos, nem os mares floridos,
nem
o prazer nem a dor nem a amizade,
nem
o indivíduo só compreendendo as causas,
nem
os livros nem os poemas, nem as audácias heróicas,
--
a redenção sou eu, se formos nós sem forma,
sem
liberdade ou corpo, sem programas ou escolas!
Aqui
está a redenção. Tomai-a toda.
E
se é verdade a fome,
se
é verdade o abismo,
se
é verdade o pensamento húmido
que
pestaneja ansioso nos cortejos públicos,
se
são verdade as redenções que mentem:
Matem
essa gente para salvar a Vida!
E
matem-me com elas para que as queime ainda!
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