quinta-feira, 9 de agosto de 2018

AMÉRICA - Allen Ginsberg



AMÉRICA

América eu lhe dei tudo e agora não sou nada.
América dois dólares 27 centavos 17 de janeiro, 1956.
América não aguento mais minha própria mente.
América quando acabaremos com a guerra humana?
Vá se foder com sua bomba atômica…
Não estou legal não me encha o saco
Não escreverei meu poema enquanto não me sentir legal.
América quando é que você será angelical?
Quando você tirará sua roupa?
Quando você se olhará através do túmulo?
Quando você merecerá seu milhão de trotskistas?
América por que suas bibliotecas estão cheias de lágrimas?
América quando mandará seus ovos para a India?
Estou cheio das suas exigências malucas?
Quando poderei entrar no supermercado e comprar o que preciso
Só com minha boa aparência?
América afinal eu e você é que somos perfeitos não o outro mundo.
Sua maquinaria é demais para mim.
Você me faz querer ser santo.
Deve haver um jeito de resolver isso.
Burroughs está em Tanger acho que ele não vai voltar mais isso é sinistro.
Estará você sendo sinistra ou isso é uma brincadeira?
Estou tentando entrar no assunto.
Recuso-me a abrir mão das minhas obsessões.
América pare de me empurrar sei oque estou fazendo.
América as pétalas das ameixeiras estão caindo.
Faz meses que não leio os jornais todo o dia alguém é julgado por assassinatos.
América fico sentimental por causa dos Wobblies.
América eu era comunista quando criança e não me arrependo.
Fumo maconha toda vez que posso.
Fico em casa dias seguidos olhando as rosas do armário.
quando vou ao Bairro Chinês fico bêbado e nunca consigo alguém para trepar.
Eu resolvi vai haver confusão.
Você devia ter me visto lendo Marx.
meu psicanalista acha que estou muito bem.
Não direi as orações ao senhor.
Eu tenho visões místicas e vibrações cósmicas.
América ainda não lhe contei o que você fez com Tio Max depois que ele voltou da Rússia.
Eu estou falando com você.
Você vai deixar que sua vida emocional seja conduzida pelo Time Magazine?
Estou obcecado pelo Time Magazine.
Leio-o toda semana.
Sua capa me encara toda vez que passo furtivamente pela confeitaria da esquina.
Leio-o no porão da biblioteca Pública de Berkeley.
Está sempre me falando de responsabilidades. Os homens de negócios são sérios. Os produtores de cinema são sérios. Todo o mundo é sério menos eu.
Passa pela minha cabeça que eu sou a América.
Estou de novo falando sozinho.
A Ásia ergue-se contra mim.
Não tenho nenhuma chance de chinês.
É bom eu verificar meus recursos nacionais.
Meus recursos nacionais consistem em dois cigarros de maconha milhões de genitais uma literatura pessoal impublicável a 2000
quilómetros por hora e vinte e cinco mil hospícios.
Nem falo das minhas prisões ou dos milhões de desprivilegiados
que vivem nos meus vasos de fçores à luz de quinhentos sóis.
América liberte Tom Mooney
América salve os legalistas espanhóis.
América
Sacco e Vanzetti não podem morrer
América eu sou os garotos de Scottsboro
América quando eu tinha sete anos minha mãe me levou a uma reunião da cédula do Partido Comunista eles nos vendiam grão de bico um bocado por um bilhete um bilhete por um tostão e todos podiam falar todos eram angelicais e sentimentais para com os trabalhadores era tudo tão sincero você não imagina que coisa boa era o partido em 1935
Scott Nearing era um velho formidável gente boa de verdade Mãe Bloor me fazia chorar certa vez vi Israel Amster cara a cara. Todo mundo devia ser espião
 (…)
Soldados Manifestantes contra a Guerra do Vietnã
punidos
Por Lesa-Presidência
Trabalhos Forçados
Conhece-te a Eles mesmos nos Depósitos de Petróleo
da Refinaria Shell…

Serafins do Poder Financeiro em planícies texanas
homens imensos obesos poderosos
enviando carradas de Capital
via trem
Através dos prados –
Enfiando mensagens em milhões de ouvidos limpos-inocentes
Mensagens espirituais sobre a guerra espiritual –
Vinde a Jesus
que é onde a grana está
vozes do Texas
Cantando blues do Vietnã
com voz nasalada…



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