terça-feira, 21 de agosto de 2018

Chicago - Carl Sandburg

Chicago

Chacinadora de porcos para o mundo,
fabricante de máquinas, ensiladora de trigo,
tu que brincas com as ferrovias e transportas os produtos do país:
tumultuosa, grosseira, sempre aos gritos,
ó cidade das costas largas:

Dizem-me que és selvagem e eu acho que sim: vi as tuas mulheres
pintadas seduzirem os rapazes do campo à luz dos lampiões.
Dizem-me que és injusta e eu respondo: é verdade; vi pistoleiros matarem e ficarem livres para continuarem a matar.
E dizem-me que és brutal. A minha resposta é: nas caras
das mulheres e das crianças vi as marcas de uma fome tenaz.
Foi o que respondi. E voltando-me mais uma vez para aqueles que escarnecem da minha
cidade,  por meu turno escarneci deles, dizendo:
Mostrai-me outra cidade que de cabeça levantada cante assim, orgulhosa de estar viva e de ser rumorosa e forte e astuta.
Lançando magnéticas pragas, acumulando afadigamente fainas sobre fainas, eis a grande ardorosa lutadora erguendo-se viva entre as pequenas cidades efeminadas;
feroz como um mastim de língua pendente, pronto para o assalto, ardilosa como um selvagem que defronta a hostilidade do deserto,
de cabeça nua
amontoas
arrasas
planificas
constróis, destróis, reconstróis,
por entre o fumo, a boca cheia de pó, rindo com brancos dentes,
sob o peso terrível do destino rindo como riem os jovens,
rindo como ri um lutador ignorante que nunca perdeu um combate.
rindo gabarola, rindo de sentires o sangue a pulsar-te nas veias,
rindo de sentires no peito o coração do povo!
Rindo o sonoro, rude, tempestuoso riso da mocidade semi-nua, suarenta, orgulhosa de seres a chacinadora de porcos para o mundo, a fabricante de máquinas, a cidade que brinca com as ferrovias e transporta os produtos do país.

 Carl Sandburg
(tradução de Alexandre O'Neil)

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