Os muros
Minha cidade tem muros
de pedra, cimento e cal
tem muros que são tribunas,
painéis,
cartilha e coral.
Quem de
noite faz as letras
que aparecem de manhã?
Será a mão do poeta
ou a mão da tecelã?
que aparecem de manhã?
Será a mão do poeta
ou a mão da tecelã?
Viva Luiz Carlos Prestes!
O
petróleo é nosso!
Fora com os americanos!
Fora com os americanos!
A polícia
apaga e as letras
aparecem de manhã.
aparecem de manhã.
Será a mão do poeta
ou a mão
da tecelã?
Minha cidade tem muros
brancos,
cinzentos, de cores,
riscos de piche e carvão,
ó, pintores, vinde ver!
riscos de piche e carvão,
ó, pintores, vinde ver!
Vinde ler a história escrita
nos
muros, cada manhã.
Será a mão do poeta
ou a mão
da tecelã?
(São Paulo, 1953)
Este poema, publicado no Suplemento
Cultural do jornal comunista “Imprensa Popular“ em 25/07/1954, até agora jamais havia sido
republicado. Ele me foi gentilmente enviado pelo pesquisador João Nascimento, a
quem muito agradeço.
“Os Muros” foi escrito por Jacinta
Passos em 1953, ano em que voltou a ser internada na Clínica
Psiquiátrica Charcot, em São Paulo, onde já estivera no ano
anterior, as duas vezes com o diagnóstico de esquizofrenia
paranoide. Não se sabe se Jacinta compôs este poema durante sua segunda
internação no Charcot (quando comprovadamente redigiu o longo poema "A
Coluna", depois publicado em livro), ou durante o período em que
morou em casa de sua irmã Dulce Passos, também na capital paulista,
entre os dois internamentos. “Os Muros” integra a série de poemas
políticos de Jacinta.
Sem comentários:
Enviar um comentário