domingo, 19 de maio de 2019

SONETO EXPOSTO - Amadeu Baptista



SONETO EXPOSTO

(ou uma certa ideia de memória do país)

O desengonçado trânsito cavernícola.
 A eterna crise com os dentes afiados.
 Um país de paisagens marítimas e vinícolas,
 em que uns são filhos e outros enteados.

O recorte da serra na distância.
 Os pardais semoventes sobre as praças.
 Alguns homens sombrios com a ânsia
 de não serem roídos pelas traças.

O redil organizado como um caos.
 Uns quantos menos bons e outros muito maus.
 Uma planície, uma cidade, um chaparral.

E em volta disto o mar, sempre indiferente
 do que queira ou não queira a sua gente.
 E fica no soneto exposto Portugal.

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