II
A morte lixa tudo
Aqueles velhos vieram do campo como eu
até encontrarem jardins
ornamentados de galinhas de ovos de ouro
e ali ficam de olhos distraídos pela
imbecilidade das pombas
até morrerem para dar espaço a padarias
todas gourmet no paladar, do pão de deus à
literatura
o largo fica vazio quando a morte lixa
tudo
morte do parlapiê, morte dos jornais,
morte dos livros,
resta um eléctrico onde nos roubam a
carteira
ainda que pelo chiado eu me desloque a pé
em direcção à calçada do combro
de saco vazio a tiracolo entre casas
restauradas e pasteis de nata
a pensar nos velhos, avanço um pouco mais
mexo as pernas de homem do campo,
passo ao lado da rua da emenda,
um subterrâneo vazio,
mas já nada se pode emendar,
não era preciso nada disto, etc,
a morte lixa tudo e apetece-me gritar.
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