sábado, 2 de setembro de 2023

Poema imitado de Pablo Neruda para o Eugénio de Andrade - Manuel Dias da Fonseca

 

Poema imitado de Pablo Neruda

para o Eugénio de Andrade

de Manuel Dias da Fonseca


A Paz nasce nas folhas duma pequenina erva.

A Paz nasce como a água: nas mãos dos homens.

A Paz nasce nos olhos dos camponeses

e no sorriso de João.

A Paz nasce numa rosa branca

ou no grito duma locomotiva

erguendo fontes no silêncio da noite.

A Paz nasce quando vejo o meu camarada

e me diz: bom dia!

A Paz nasce no martelo que se levanta.

A Paz nasce quando leio Walt

dormindo entre os cocheiros.

A Paz nasce quando os amantes se mordem

como se uma charrua rasgasse a terra.

A Paz nasce com José.

A Paz nasce quando o pescador abraça o seu irmão.

A Paz nasce quando a minha mãe me diz:

Deus te abençoe, meu filho!

A Paz nasce quando uma espingarda se cala.

A Paz nasce com a liberdade

ou na cor dos teus olhos.

A Paz nasce quando o poeta canta sem medo

o desespero e a esperança.

Quando era criança

brincava com uma pomba próximo do mar.

Era verde o tempo.

Verdes os cabelos da aurora.

Uma montanha corria para mim,

alada como um rio...

Comia espigas de água

e cerejas com folhas de silêncio.

Era verde o tempo.

O tempo que mergulhava no meu corpo de pássaro

e nele desenhava curvas

como num campo de searas.

Amo a simplicidade das árvores

ou duma janela aberta.

E se falo no tempo em que ser criança

é ser o sol,

é porque sou um homem.

Um homem igual aos outros homens.

Um homem que ama a vida maternalmente.

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