Poema
imitado de Pablo Neruda
para
o Eugénio de
Andrade
A Paz nasce nas folhas duma pequenina erva.
A Paz nasce como a água: nas mãos dos
homens.
A Paz nasce nos olhos dos camponeses
e no sorriso de João.
A Paz nasce numa rosa branca
ou no grito duma locomotiva
erguendo fontes no silêncio da noite.
A Paz nasce quando vejo o meu camarada
e me diz: bom dia!
A Paz nasce no martelo que se levanta.
A Paz nasce quando leio Walt
dormindo entre os cocheiros.
A Paz nasce quando os amantes se mordem
como se uma charrua rasgasse a terra.
A Paz nasce com José.
A Paz nasce quando o pescador abraça o seu
irmão.
A Paz nasce quando a minha mãe me diz:
Deus te abençoe, meu filho!
A Paz nasce quando uma espingarda se cala.
A Paz nasce com a liberdade
ou na cor dos teus olhos.
A Paz nasce quando o poeta canta sem medo
o desespero e a esperança.
Quando era criança
brincava com uma pomba próximo do mar.
Era verde o tempo.
Verdes os cabelos da aurora.
Uma montanha corria para mim,
alada como um rio...
Comia espigas de água
e cerejas com folhas de silêncio.
Era verde o tempo.
O tempo que mergulhava no meu corpo de
pássaro
e nele desenhava curvas
como num campo de searas.
Amo a simplicidade das árvores
ou duma janela aberta.
E se falo no tempo em que ser criança
é ser o sol,
é porque sou um homem.
Um homem igual aos outros homens.
Um homem que ama a vida maternalmente.
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