segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Chile: 50 ANOS NEGANDO O INEGAVEL Por Jorge Lillo

Chile: 50 ANOS NEGANDO O INEGAVEL

Por Jorge Lillo

Donde se pone el dedo en la llaga de una herida
que no ha cerrado, no cierra ni cerrará.

El olvido está lleno de memoria
Mario Benedetti

Passaram cinquenta anos

e aqui nada aconteceu;

você não estava ao corrente

e alguns dizem “que estranho!”

Não querem saber o que aconteceu

nem tão-pouco quem o motivou;

hoje ilude-se o compromisso

de validar esta história

que passa como um conto de fadas,

como se fosse um feitiço.

 

“Eu não soube como foi

porque andava noutra.”

Ninguém abriu a sepultura

nem o que veio depois.

Outros dizem: “não pensei,

porque nunca soube de excessos;

tão-pouco tive conhecimento de presos

muito menos de torturados;

nunca vi soldados

atuando em qualquer acontecimento.”

 

“Eu nunca tive partido,

e tão-pouco desfilei;

nunca soube de qualquer UP:

e é-me estranho este aniversário.”

- “Tem a certeza, subsecretário,

que morreu algum presidente?”

-“Em tempos fui dirigente

de partido de esquerda

e esse nome não condiz

com as minhas ideias recentes.”

 

“Nada tive a ver com isso,

nem nunca vi nada;

meu quépi fazia-me sombra

e não podia fazer nada.”

'Não voltará a acontecer,

–diz um grande desiludido

que se encontra exausto

e prestes a desmaiar-

pelo que observo

tudo foi superado.”

 

“Convoco, em primeiro lugar,

a unidade nacional

para o bem empresarial

que beneficia as pessoas.

O passado já está ausente,

olhemos para o futuro.

Deixemos os maus pensamentos

Que em nada nos beneficiam

e não brademos por justiça

para acontecimentos tão sombrios.

 

Muito poucos dizem: “Eu estive,

eu disse, eu publiquei,

eu escrevi, eu desenhei

eu defendi, eu sustive.”

A negação aumenta

pelos caminhos do esquecimento

e nega-se o acontecido

para a tranquilidade

que acomoda a consciência

por inconfessáveis motivos.

 

De nada valem as fotos,

os parentes, os documentos:

inauguram-se monumentos

a quem ontem violou seus votos.

Quem poderá acabar

com a baixeza imperante

que nega a esmagadora

verdade dos testemunhos?

Agem como Polónio (1),

aquele mentiroso intrigante.

 

Supere essa nugatoria (2),

os limites do absurdo:

lançando argumentos grosseiros

tentam distorcer a história

denegrindo a memória

de quem caiu combatendo

no dia mais horrendo

que envergonha este país.

A negação ainda está aqui

e nela te estás afundando.

 

Cinquenta anos depois,

renega-se o passado:

ignora-se o que aconteceu,

o que teria sido e o que foi.

Despeço-me aqui de si

pois já nada me surpreende:

nem o escravo que defende

o verdugo que o maltrata,

nem o traidor que ainda mata

o grande Salvador Allende.

 

(1)           Polônio, (personagem de Hamlet) atua como um “tolo tagarela” para manter sua posição e popularidade seguras e evitar que alguém Descubra seus planos de avanço social.

(2) Nugatoria: que zomba da esperança concebida.

y aquí no ha pasado nada; 
usted no estuvo enterada 
y otros dicen “¡qué extraño!” 
No quieren saber del daño 
ni tampoco quién lo hizo; 
hoy se elude el compromiso 
de validar esta historia 
que pasa como faloria, 
como si fuera un hechizo.

“Yo no supe cómo fue 
porque estaba en otra cosa”. 
Ninguno cavó la fosa 
ni lo que vino después. 
Otros dicen: “no juzgué, 
pues nunca supe de excesos; 
tampoco supe de presos 
ni menos de torturados; 
jamás divisé soldados 
actuando en algún suceso”.

“Yo nunca fui partidario, 
ni tampoco desfilé; 
nunca supe de una UP: 
me extraña este aniversario”. 
—“¿Seguro, subsecretario, 
que murió algún presidente?” 
—“Yo siempre fui dirigente 
de algún partido de izquierda 
y ese nombre no concuerda 
con mis ideas recientes.”

“Nada tuve que ver, 
por eso es que nada vi; 
me daba sombra el quepí 
y nada podía hacer”. 
“No volverá a suceder, 
–dice un iluso encumbrado 
que se encuentra acogotado 
y a punto de fenecer– 
desde el cepo puedo ver 
que todo está superado.”

“Convoco, primeramente, 
a la unidad nacional 
por el bien empresarial 
que beneficia a la gente. 
El pasado ya está ausente, 
miremos hacia el futuro. 
Dejemos los datos duros 
que en nada nos benefician 
y no clamemos justicia 
por sucesos tan oscuros.”

Muy pocos dicen: “yo estuve, 
yo dije, yo publiqué, 
yo escribí, yo dibujé 
yo defendí, yo sostuve.” 
La negación hoy se sube 
por las ramas del olvido 
y se niega lo ocurrido 
por buscar la conveniencia 
que acomoda la conciencia 
a inconfesables motivos.

De nada valen las fotos, 
los deudos, los documentos: 
se inauguran monumentos 
a quien violó ayer sus votos. 
¿Quién podrá ponerle coto 
a la bajeza imperante 
con que niegan la aplastante 
verdad de los testimonios? 
Actúan como Polonio (1), 
aquel mendaz intrigante.

Supera, esta nugatoria (2), 
los límites de lo absurdo: 
lanzando argumentos burdos 
intentan torcer la historia 
denigrando la memoria 
de quien cayó combatiendo 
en el día más horrendo 
que avergüenza a este país. 
La negación sigue aquí 
y en ella te estás hundiendo.

Cincuenta años después, 
se reniega del pasado: 
se desconoce lo actuado, 
lo que ha sido y lo que fue. 
Me despido aquí de usted 
pues ya nada me sorprende: 
ni el esclavo que defiende 
el yugo que lo maltrata, 
ni el traidor que aún mata 
al gran Salvador Allende.

(1) Polonio, (personaje de Hamlet) actúa como un “tonto charlatán” para 
mantener su posición y popularidad a salvo y para evitar que alguien 
descubra sus tramas de ascenso social.

(2) Nugatoria: que burla la esperanza que se había concebido.

 

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