terça-feira, 16 de março de 2010

Soneto - José Régio


SONETO

(em memória de Aurélio Cunha Bengala)


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da
serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os
fantoches em São Bento
E o
Decreto da fome é publicado.


Edita-se a
novela do Orçamento;
Cresce a
miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem
seis contos de ordenado.

E
enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta
contos ! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO
(1969)

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