quarta-feira, 27 de outubro de 2010

BALADA DOS CÃOTRIBUINTES



Balada dos Cãotribuintes

Somos nós os desventurados

Os pobres contribuintes
Obrigados a sofrer até ao fim dos tempos
A
sorte a que imper
A
que imperturbáveis
Nos condenam os nossos go
Todos os nossos governos
Se
meteres cem francos de gasolina
Oitenta
vão para o Estado
Olha cheio de concupiscência
Os Cadillac...
Olha pra outro lado
No
teu dois cavalos de brincar
Saltita ao
longo dos caminhos
É uma
sorte poderes circular
Amanhã vão-to proibir
Taxa sobre o álcool e a cerveja
Sobre os definitivos e os provisórios
Sobre o triste celibatário
Castigado
por ser um
Controlam-te
todos os passos
Ah compraste
um belo naco
Tudo corre às mil maravilhas
Paga guloso paga prò saco

Refrão

Numa
bandeja o Estado dá-te
Um prato... apanhas um desgosto
Está
vazio E tu admiras-te
Mas é o prato do imposto
Tu passeias pela vida
De
peito feito cheio impante
Cuidado com o imposto sobre a energia
É
para ontem... ou mesmo antes
Um belo dia sobre o oxigénio
Ligar-te-ão o
contador
Tarifa simples o ar do Sena
Tarifa dupla o ar da serra
Eis porém que tu te fartas
Preferes
andar aos caídos
Ou tornar-te engolidor de facas...
Taxa de engolidor acrescentada

Refrão

Um remédio o casamento
Dizes de
súbito e corres
A
procura de uma rapariga séria
Que saiba de amor e de comes
Apressas-te e calculas
Que ao fim de doze filhos o abono
Do
teu rendimento minúsculo
Compensará a
escassez
Mas um inspector das Finanças
Põe-se a
badalar a ideia
E pare...
sem dor por minha
Um texto cheio de veia
Então a Câmara classifica-te
Como garanhão de cobrimento
Medem-te e tens a
mais
Pagas taxa sobre o comprimento

Refrão

Se pagasses
para alguma coisa
Sempre tinhas uma justificação
Mas infeliz daquele que ousa
Perguntar pr'onde vai o cifrão
Temos
estradas miseráveis
Nãoescolas mas padres
Acabou o
bom vinho há carrascão
Mas fornecem-nos o puré
O
governo da França
Republicano —
ou que assim diz que é —
um prato oferece com abastança
O
frango... pilim para o arroz
E
para evitar a falência
Dos
pobres vendedores de canhões
Faz-se uma
guerra do para a mão
A
guerra não se diz que não...

Mas nós os pobres cães os pobres contribuintes
Virá
um dia em que de pau em punho
Nos consolaremos a limpar o redil
Onde os nossos seiscentos porcos estão maduros para o enchido

Boris Vian, in "Canções e Poemas"
Tradução de Irene Freire Nunes / Fernando Cabral Martins



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