terça-feira, 6 de setembro de 2016

Hábitos - Hans Magnus Enzensberger

Hábitos

Quantas vezes Platão assoou o nariz,
e São Tomás de Aquino
tirou os sapatos,
quantas vezes Einstein escovou os dentes,
e Kafka ligou e desligou a luz,
antes de enfim chegarem
ao que lhes cabia fazer?

Semanas sem fim, feitas as contas,
levamos
a abotoar e desabotoar camisas,
procurar os óculos
ou, tomada a decisão,
novamente descartá-la.

Como são efémeras as nossas opiniões
e as nossas obras, em comparação
com aquilo que nos é comum:
cozinhar, lavar a roupa, subir escadas –
repetições de pouco relevo,
pacíficas, corriqueiras
e mais indispensáveis que qualquer chef d'oeuvre.
 
Angewohnheiten

Wie oft mußte Plato sich schneuzen,
der heilige Thomas von Aquin
seine Schuhe ausziehen,
Einstein sich die Zähne putzen,
Kafka das Licht ein- und ausschalten,
bevor sie zu dem kamen,
was ihnen aufgetragen war?

Ganze Wochen, aufs ganze gesehen,
bringen wir damit zu,
unsere Hemden auf- und zuzuknöpfen,
unsere Brillen zu suchen
oder das, was wir zu uns nahmen,
wieder auszuscheiden.

Wie flüchtig sind unsere Meinungen
und unsere Werke, verglichen mit dem,
was wir miteinander teilen:
Kochen, Waschen, Treppensteigen –
unscheinbare Wiederholungen,
die friedlich sind, gewöhnlich
und unentbehrlicher als jedes chef d’oeuvre.

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