sexta-feira, 12 de maio de 2017

Dona abastança - Manuel da Fonseca


 
Dona abastança

INSTRUMENTAL

“A caridade é amor”
Proclama Dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
Dar a todos não se pode.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Já se deixa ver que não pode ser,
Quem dá o que tem um dia a pedir vem.
Já se deixa ver que não pode ser,
Quem dá o que tem um dia a pedir vem.

INSTRUMENTAL

O bem da bolsa lhes sai
Sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém.

Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem roubou
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver que não pode ser,
Quem dá o que tem um dia a pedir vem.
E já se deixa ver que não pode ser,
Quem dá o que tem um dia a pedir vem.

INSTRUMENTAL

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
Tão estranha caridade
Pôr o dinheiro do povo
Contra o povo da cidade.

Já se deixa ver que não pode ser,
Quem dá o que tem um dia a pedir vem.
E já se deixa ver que não pode ser,
Quem dá o que tem um dia a pedir vem.

INSTRUMENTAL

“A caridade é amor”
Proclama Dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

in "Poemas para Adriano"

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