sábado, 30 de março de 2019

Sangue negro - Jacinta Passos

Sangue negro
(para Jorge Amado)

Terras curvas do Recôncavo
onde adormece o oceano,
no teu subsolo circula
sangue negro cor da noite,
da cor co preto africano,
preto cujo sangue escravo
regou o solo baiano.

Terras curvas do Recôncavo
Onde adormece o oceano,
de tuas veias abertas
escorre
o petróleo baiano,
sangue negro do Brasil.

Operário mestiço!
tuas ásperas mãos – e tu não sabes disso –
tuas mãos quando movem as máquinas do Poço
movem forças latentes,
movem forças criadoras,
movem o Brasil, tuas mãos libertadoras.

Teu gesto inicial se transmite e propaga,
repercute longe até nas selvas do Oeste
e cresce, desdobrado como cresce uma onda
de mar,
cresce e acelera o ritmo da Volta Redonda,
gerando máquinas sem parar,
e gera usinas
onde o ferro e os metais tirados das minas
do ventre da terra.


Jorge Amado, à época intelectual comunista, residente em Salvador e já de grande sucesso, era amigo de Jacinta; ambos escreviam para o jornal O Imparcial. A partir de 1945, Jacinta tornou-se cunhada de Jorge, ao se casar com o irmão dele.


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