sexta-feira, 19 de julho de 2024

Zeca Afonso - Os Índios da meia praia


 
 

Os Índios da Meia-Praia

Aldeia da Meia Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga da melhor
Que sei e faço de Monte Gordo vieram alguns
Por seu próprio pé um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha à ré
Quando os teus olhos tropeçam no
Voo de uma gaivota em vez de peixe vi peças
De oiro caindo na lota
Quem aqui vier morar, não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Levam-te o couro cabeludo
Quem dera que a gente
Tenha de agostinha valentia
Para alimentar a sanha de esganar a burguesia
Adeus disse a Monte Gordo
Nada o prende ao mal passado
Mas nada o prende ao presente se
Só ele é o enganado
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Oito mil horas contadas laboraram a preceito
Até que veio o primeiro documento autenticado
Eram mulheres e crianças
Cada um com seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra
Quem diz o contrário é tolo
E se a má língua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza dos
Índios da Meia Praia
Foi sempre a tua figura tubarão de mil aparas
Deixas tudo à dependura quando
Na presa reparas
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Das eleições acabadas do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história e
O povo saiu à rua
Mandadores de alta finança fazem
Tudo andar p'ra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Eram mulheres e crianças cada
Um com seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra
Que diz o contrário é tolo
E toca de papelada no vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros inda
A banda vai na estrada
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu
Iiiii iuuuu

José Afonso

 

Sem comentários: