(desenho de Fernão Campos)
Dedico este livro às pessoas
comuns
As pessoas são comuns quando já não
querem ser outras.
As pessoas comuns só querem que não as
chateiem e mais nada.
As pessoas comuns não esperam a
esperança.
Ela espera sempre e nunca é esperada,
Ela faz-se adulta mas é sempre criança,
Ela é maior mas é sempre pequena,
Ela é amante antes de ser amada,
Ela é oficial e age como ordenança,
Ela é profissional e pagam-lhe como
amadora,
Ela é mestre e ouve como discente,
Ela é doutora e tratam-na como
paciente,
Ela é mãe sem deixar de ser filha.
Ele nunca é observador é sempre observado,
Ele nunca é escritor é sempre leitor,
Ele é o ator que atua na plateia.
Ele queria ser flor e foi sempre mato,
Ele queria ser poema e não passou de letra,
Ele não conseguiu ser fadista nem letra de fado,
Ele queria ser marinheiro e foi faroleiro,
Ele queria ser pastor e foi sempre ovelha,
Ele queria ser dono e foi sempre um animal,
Ele queria ser agricultor mas limitou-se a comer,
Ele nunca tratou da vinha e não lhe faltou de beber,
Ele queria ser eleito e foi sempre eleitor,
Ele queria um mundo melhor mas…
Ele queria ser outro e foi ele mesmo,
Ele queria ser rico e foi sempre
pobre,
Ele queria ser história e só teve
nome,
Ele queria ser herói e é
Ao meu herói:
O homem comum
Ele foi sempre limpo e não passou de
porco,
Ele queria ser lúcido e foi sempre
louco,
Ele queria ser muito e foi sempre
pouco,
Ele sonhava o futuro e só teve o
presente,
Ele queria viver para sempre e morreu,
Comumente
- Que é isso de vencer na vida, ó vós
incomuns!?
Luis Neves
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