segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A greve - Pablo Neruda

XIII

A greve

 

Estranha era a fábrica inativa.

Um silêncio na planta, uma distância

entre máquinas e homem, como um fio

cortado entre planetas, um vazio

das mãos do homem que consomem

o tempo construindo, e as desnudas

estâncias sem trabalho e sem um som.

Quando o homem deixou as tocas

da turbina, quando desprendeu

os braços da fogueira e decaíram

as entranhas do forno, quando tirou os olhos

da roda e a luz vertiginosa

se deteve em seu círculo invisível,

de todos os poderes poderosos,

dos círculos puros de potência,

da energia surpreendedora,

ficou um montão de inúteis aços

e nas salas sem homem, o ar viúvo,

o solitário aroma do azeite.

 

Nada existia sem aquele fragmento

batido, sem Ramírez,

sem o homem de roupa rasgada.

Lá estava a pele dos motores,

acumulada em morto poderio,

como negros cetáceos no fundo

pestilento dum mar sem ondulação,

ou montanhas escondidas de repente

sob a solidão dos planetas.

 

Pablo Neruda


(Canto Geral

 

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