Orlando da Costa
(1929-2006)
Canto Civil – 1
Este é o meu canto civil
canto cívico
graduado
desde um tempo antigo que vivi
entre poemas de
aço camuflados e algemas
de silêncio
Esse era o tempo do assalto
às casernas
mas já então eu
escrevia o que devia:
a cartilha da guerrilha
do amor e da paz
para ser ensinada à luz das lanternas
nas escolas nas igrejas
na parada dos quartéis
Este é o meu canto civil
canto cívico
desfardado
escrito a vinte e oito
de Abril
do ano passado à noite
de punho cerrado com alegria e sem espanto
canto para ser
cantado de dia
por todos por muitos por mim ou por ninguém:
Soldado raso
ao cimo da calçada
em guarda
de flor e farda
a flor que te damos
é pão da madrugada
É pão amassado
sem liberdade
é gesto de guerra
em nome da paz.
É flor de canção
em terra mar e ar
rubra flor popular
num só cano de espingarda
Soldado raso
em sentido na memória
lembra-te de novo e sempre
a flor que te damos
é da terra é do povo
é pão da madrugada.
(Musicado pelo maestro
Fernando Lopes-Graça)
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