sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Canto Civil-1 - Orlando da Costa



Orlando da Costa 
(1929-2006)

Canto Civil – 1

            Este é o meu canto civil
            canto cívico graduado
            desde um tempo antigo que vivi
            entre poemas de aço camuflados e algemas de silêncio
            Esse era o tempo do assalto às casernas
            mas já então eu escrevia o que devia:
            a cartilha da guerrilha do amor e da paz
            para ser ensinada à luz das lanternas
            nas escolas nas igrejas na parada dos quartéis

            Este é o meu canto civil
            canto cívico desfardado
            escrito a vinte e oito de Abril
            do ano passado à noite
            de punho cerrado com alegria e sem espanto
            canto para ser cantado de dia
            por todos por muitos por mim ou por ninguém:
           
            Soldado raso
            ao cimo da calçada
            em guarda
            de flor e farda
            a flor que te damos
            é pão da madrugada

            É pão amassado
            sem liberdade
            é gesto de guerra
            em nome da paz.
            É flor de canção
            em terra mar e ar
            rubra flor popular
            num só cano de espingarda
            Soldado raso
            em sentido na memória
            lembra-te de novo e sempre
            a flor que te damos
            é da terra é do povo
            é pão da madrugada.

(Musicado pelo maestro Fernando Lopes-Graça)

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