RADUAN
NASSAR
«… além de jornalista exímia, você preenche brilhantemente os requisitos
como membro
da polícia feminina;
aliás, no abuso
do poder, não
vejo diferença entre
um redator-chefe e um
chefe de polícia,
como no resto
não há diferença
entre dono
de jornal e dono
de governo, em
conluio, um
e outro, com
donos de outros
géneros» «não é comigo,
solene delinquente, mas
com o povo
que você há
de se haver um
dia» «pense, pilantra,
uma vez sequer
nessa evidência, ainda
que isso
seja estranho ao teu
folclore, ainda
que a disciplina
das tuas orelhas não
se preste a tanta
dissonância: o povo
nunca chegará ao poder!»
«louquinho da aldeia!... entrou de vez em convulsão, sabe lá
o que ainda
vem desse transe paroxístico…» «o povo nunca chegará
ao poder! Não
seria pois com
ele que
teria um dia
de me haver;
ofendido e humilhado, povo é só, e será sempre,
a massa dos governados; diz inclusive tolices, que você enaltece, sem se dar conta
de que o povo
fala e pensa,
em geral,
segundo anuência
de quem domina; fala,
sim, por
ele mesmo,
quando fala
(como falo)
com o corpo,
o que pouco
adianta, já que
sua identidade
jamais se confunde com
a identidade de supostos
representantes, e que a força escrota
da autoridade necessariamente fundamenta
toda a “ordem”,
palavra por
sinal sagaz
que incorpora, a um
só tempo,
a insuportável voz
de comando e o presumível lugar das coisas;
claro que
o povo pode até
colher benefícios,
mas sempre
como massa
de manobra de lideranças
emergentes; por
isso vá em
frente, pilantra
--- com o povo
na boca, papagueando sua fala tosca, sem dúvida pitoresca…»
De
“UM COPO
DE CÓLERA” de Raduam Nassar
1 comentário:
Na verdade relativa de todas as coisas
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