domingo, 21 de setembro de 2014

RADUAN NASSAR - extrato de “UM COPO DE CÓLERA”



RADUAN NASSAR

«… além de jornalista exímia, você preenche brilhantemente os requisitos como membro da polícia feminina; aliás, no abuso do poder, não vejo diferença entre um redator-chefe e um chefe de polícia, como no resto não há diferença entre dono de jornal e dono de governo, em conluio, um e outro, com donos de outros géneros» «não é comigo, solene delinquente, mas com o povo que você há de se haver um dia» «pense, pilantra, uma vez sequer nessa evidência, ainda que isso seja estranho ao teu folclore, ainda que a disciplina das tuas orelhas não se preste a tanta dissonância: o povo nunca chegará ao poder!» «louquinho da aldeia!... entrou de vez em convulsão, sabe lá o que ainda vem desse transe paroxístico…» «o povo nunca chegará ao poder! Não seria pois com ele que teria um dia de me haver; ofendido e humilhado, povo é só, e será sempre, a massa dos governados; diz inclusive tolices, que você enaltece, sem se dar conta de que o povo fala e pensa, em geral, segundo anuência de quem domina; fala, sim, por ele mesmo, quando fala (como falo) com o corpo, o que pouco adianta, já que sua identidade jamais se confunde com a identidade de supostos representantes, e que a força escrota da autoridade necessariamente fundamenta toda a “ordem”, palavra por sinal sagaz que incorpora, a um só tempo, a insuportável voz de comando e o presumível lugar das coisas; claro que o povo pode até colher benefícios, mas sempre como massa de manobra de lideranças emergentes; por isso vá em frente, pilantra --- com o povo na boca, papagueando sua fala tosca, sem dúvida pitoresca…»

De “UM COPO DE CÓLERA” de Raduam Nassar

1 comentário:

Mar Arável disse...

Na verdade relativa de todas as coisas