Garcia de Resende
Cancioneiro Geral
De Luís da Silveira
a dom Nuno Manuel
(….)
Esperança de proveito
faz fingir mil amizades
mui cheas de seu respeito
mui vazias de verdades.
O ódio
não aparece
o amor
anda de fora
este é o mundo d’agora
guai de quem
o não conhece.
Os rostos
andam afeitos
a mil
dessimulações
tudo são modos e jeitos
só Deos sabe
os corações.
Não há i língua que diga
a tenção
de seu senhor
da vontade
mais imiga
amostre ela
mais amor.
Às palavras
dão-lhe cores
naturais com falsa tinta
mas òs bons conhecedores
logo tudo se despinta.
Vivem de manhas
e d’artes
trazem pesos
e balança
com que pesam esperança
que lhe pode vir dar partes.
Não buscam amigos sãos
nem menos espirituais
mas querem-nos temporais
temporais e temporãos.
Que venham logo com fruito
acabados de prantar
estes prezam eles muito
estes põe no seu pomar.
Fim
Trazem
per grandes
baixezas
água ao seu moinho
sem olhar per que caminho
que não curam de limpezas.
Buscam rodeos, enganos
perdem a vida
e o sono
para a trazer per seus canos
que os não sinta seu dono.
Luís
da Silveira
[Cancioneiro
Geral, fls. 129f-130ª]
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